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POLÍCIA PRIVADA
Apesar de o serviço extra ser proibido, policiais entram na Justiça para cobrar pelo trabalho de segurança particular
PMs cobram direito trabalhista por bico
GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Apesar de o bico ser proibido,
policiais militares não se intimidam com possíveis punições administrativas e entram na Justiça
para cobrar de seus contratantes
direitos trabalhistas de serviços de
segurança ilegal realizados em
seus horários de folga.
As ações na Justiça do Trabalho
viraram a principal forma da corporação saber de bicos realizados
por seu efetivo, segundo o comandante da Polícia Militar de
São Paulo, coronel Elizeu Eclair
Teixeira Borges. Na maioria das
vezes, são as pessoas que contrataram os serviços dos PMs -e
que viraram alvo das ações- que
fizeram as denúncias.
Até a segurança ilegal realizada
por PMs em um condomínio da
zona sul de São Paulo virou briga
judicial e foi parar no TRT (Tribunal Regional do Trabalho). Em
agosto, o tribunal negou a existência de vínculo empregatício
entre um PM -hoje fora da corporação- e o condomínio. Na
primeira instância, os PMs tinham obtido decisão favorável.
Segundo o processo, que tramita desde 2000, os policiais -entre
eles, o autor da ação- foi contratado pelo síndico do condomínio.
Os PMs se revezavam no serviço
nos horários de folga.
Mas não foi pelo fato de o bico
ser proibido que o TRT rejeitou a
argumentação do PM. Para os juízes, não houve vínculo empregatício e sim trabalho eventual.
Decisões anteriores do TRT, porém, mostram que esse vínculo
pode existir. Para isso, é preciso
haver quatro condições: pagamento assíduo, subordinação, habitualidade (dias e horários fixos)
e pessoalidade (sem revezamento
nas funções).
Em setembro de 2004, o TRT
aceitou o pedido de um PM que
sustentava vínculo empregatício
de uma empresa de segurança e
de um banco. Nos horários de folga, ele trabalhava para essa empresa em uma agência bancária.
O banco alegou que os PMs são
proibidos de firmar contrato de
trabalho com empresas particulares. Os juízes afirmaram que não
existe esse impedimento legal.
Ao ingressar com a ação, o PM
torna irrefutável a irregularidade
que cometeu. Mas assume os riscos das punições administrativas
previstas no regimento.
O comandante da PM acredita
que o policial que realizou essa
ousadia talvez confie demais na
possibilidade de não ser descoberto. Segundo o coronel, apenas
alguns juízes encaminham as
ações para a Corregedoria da PM.
A maior parte dos casos é enviada pelos contratantes que, prejudicados, solicitam que a corporação tente resolver o seu problema.
Mas o coronel reconhece que o
número de ações trabalhistas desse tipo é bem maior do que o conhecido pela corporação.
"Quando está tudo bem, o contratante não fala nada. Quando dá
problema, ele vem fazer a denúncia. Mas investigamos todos os
casos", afirmou.
A PM, no entanto, não tem um
levantamento sobre quantas denúncias de bico realizado por
PMs chegaram à corporação por
causa de brigas judiciais.
Outra possibilidade que pode
explicar a ousadia dos PMs que
entram com ações cobrando vínculo empregatício pode estar nas
punições aplicadas pela PM. O dinheiro ganho com o processo
compensaria essa possível pena.
A expulsão é feita em último caso. Se o PM tiver uma ficha com
bom desempenho e o bico não
envolver práticas criminosas, a
punição pode ser mais branda,
como uma repreensão ou prisão
administrativa por curto período.
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