São Paulo, quinta-feira, 27 de outubro de 2005

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INTOLERÂNCIA

Grupo é acusado de divulgar propaganda contra a mistura racial

Paraná prende suspeitos de racismo

MARI TORTATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CURITIBA

A Polícia Civil do Paraná prendeu ontem, em Curitiba, sete pessoas sob suspeita de liderar um grupo de skinheads que panfletou a cidade contra negros e homossexuais, no mês passado.
A polícia também os aponta como responsáveis pela tentativa de homicídio de um homossexual, no mesmo período. Quatro adolescentes que fariam parte do grupo foram detidos e encaminhados para a delegacia especializada.
O professor de jiu-jitsu Eduardo Toniolo Del Segue, 25, conhecido por Brasil, e Edwiges Francis Barroso -que adota o nome de Franciele Del Segue, ou apenas Fran-, 26, são apontados pelo delegado Marcus Vinicius Michelotto como os líderes dos ativistas do neonazismo em Curitiba.
Os dois foram reconhecidos por um homossexual como seus agressores. Garotos que deixaram o grupo também identificam os dois como pessoas violentas. Fran disse que é ex-skinhead e negou ser violenta.
A auxiliar de escritório que abandonou um curso de administração afirma ter deixado de ser ativista do movimento neonazista ""há pelo menos dez anos", mas fotografias recolhidas pela polícia mostram que ela estava ativa havia pouco tempo.
Além dela e do marido, foram presas mais duas mulheres: a estudante de letras Estela Herman Heise, 20, e Fernanda Keli Sens, 24. Os demais são Bruno Paese Fader, 20 -namorado de Heise-, André Lipnharski, 25, e Drahomiro Michel, 28.
Há ordem judicial para a prisão temporária dos sete, mas Michelotto afirma ter a expectativa de obter a preventiva, que prolongaria as prisões de cinco dias para mais de um mês.
Eles vão responder a inquéritos por tentativa de homicídio, apologia ao nazismo e formação de quadrilha, segundo o delegado.
O delegado disse que um ex-namorado de Heise, morador de São Paulo, foi quem abasteceu o grupo de Curitiba com os panfletos racistas e homofóbicos. Ele está sendo procurado.

Material nazista
Nas buscas, que começaram às 7h de ontem, os policiais encontraram nas casas visitadas material literário de apologia nazista, bandeiras, desenhos de Adolf Hitler, cassetetes, punhais e peças do uniforme de soldados alemães na Segunda Guerra Mundial.
Também foi exibida uma matriz para impressão da cruz celta e camisetas com essa cruz, com a suástica ou com o número 88 -que significa as letras H (de Heil Hitler) estampados no peito ou nas costas.
Uma zarabatana artesanal tinha o adesivo ""Eu voto não" (à proibição de armas de fogo no referendo do último domingo) colocado em uma extremidade.
A polícia recolheu ainda, como provas, dezenas de fotos em que o grupo aparece fazendo poses em frente à bandeira nazista ou saudando Hitler, no gesto do braço estendido à frente do corpo. Há fotos, inclusive, das duas crianças dos Del Segue fazendo esse gesto.
Policiais disseram que a maioria do grupo tem tatuagens no corpo com os símbolos nazistas. Fran teria tatuadas nas costas as palavras ""Orgulho Branco".
Essa foi a assinatura dos adesivos colados em equipamentos públicos no mês passado, que traziam a mensagem ""Mistura racial? Não, obrigado".
Os adesivos contra gays levavam a assinatura "Frente anti-caos". Um dos adolescentes de 17 anos detido disse que fazia parte desse grupo, mas que o abandonou em maio.
Michelotto entregou à Folha a cópia de um prontuário policial em que o casal Del Segue e um terceiro homem, que não foi preso, aparecem como autores de oito agressões por grupos supostamente racistas, entre 2000 e 2002.
O delegado afirmou que esperava prender mais três pessoas que comporiam o grupo de cinco pessoas que foi responsabilizado pela agressão do homossexual.


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