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Ortotanásia evita estender sofrimento, afirma filha
Com câncer, aposentado de 81 anos se recusou também a fazer cirurgias
Ele está numa hospedaria de cuidados paliativos da Secretaria Municipal de Saúde; "Aqui ele está bem, sereno, sem dor", diz a filha
DA REPORTAGEM LOCAL
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Há quase três anos lutando
contra um câncer do reto, o
contador aposentado Alberto
Mallagoli, 81, se recusou a fazer
cirurgias para a retirada do intestino e de outras regiões afetadas pelo tumor. Também já
disse que não quer ir para uma
UTI e tampouco quer ser ligado
a respiradores artificiais.
No último sábado, as poucas
palavras que disse à filha única,
Mônica, 46, foram em tom de
despedida. "Filha, acho que estou indo, está chegando a hora
de partir", conta Mônica, que
acompanha o pai na hospedaria
de cuidados paliativos da Secretaria Municipal da Saúde,
onde ele está há 13 dias, após
ter ficado outros 15 no hospital.
A filha diz apoiar integralmente a decisão do pai. "Ele
sempre foi um homem ativo.
Não quero vê-lo sofrer ainda
mais em uma UTI, sendo mantido artificialmente. Aqui ele
está bem, sereno, sem dor."
Mônica diz ser contra a eutanásia, defende a ortotanásia e
não entende a confusão que a
última vem provocando. "Jamais autorizaria qualquer procedimento que apressasse a
morte do meu pai. Mas não
quero que o entubem ou o reanimem se o coração dele parar.
Quero que a vida dele siga o rumo naturalmente."
Desenganada
Opinião semelhante tem a
empresária Ana Maria Bastos
Marin, 58. Quando a mãe foi
desenganada por causa de um
câncer de pâncreas que já havia
atingido outros órgãos, a decisão da família e do médico foi
de que ela não ficaria no hospital. "Minha mãe ficou um ano e
meio em casa, não foi internada
nem sentia dores porque foi
bem cuidada. Sabíamos que
não faltava tratamento."
Sua mãe só foi internada nos
últimos cinco dias de vida, com
falência dos rins. Ainda assim,
não foi para a UTI. No quarto,
pôde ser acompanhada de filhos e netos. "Minha mãe morreu bem, no meio da gente."
Para Ana Maria, lembrar a
mãe dessa forma é bem mais fácil. "Ela não ficou cheia de tubos nem com a cara abatida, foi
uma privilegiada. A forma como tudo foi conduzido fez diferença e foi muito importante
para a minha família."
(CLÁUDIA COLLUCCI e JULLIANE SILVEIRA)
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