São Paulo, terça-feira, 27 de novembro de 2007

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Ortotanásia evita estender sofrimento, afirma filha

Com câncer, aposentado de 81 anos se recusou também a fazer cirurgias

Ele está numa hospedaria de cuidados paliativos da Secretaria Municipal de Saúde; "Aqui ele está bem, sereno, sem dor", diz a filha

DA REPORTAGEM LOCAL
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Há quase três anos lutando contra um câncer do reto, o contador aposentado Alberto Mallagoli, 81, se recusou a fazer cirurgias para a retirada do intestino e de outras regiões afetadas pelo tumor. Também já disse que não quer ir para uma UTI e tampouco quer ser ligado a respiradores artificiais.
No último sábado, as poucas palavras que disse à filha única, Mônica, 46, foram em tom de despedida. "Filha, acho que estou indo, está chegando a hora de partir", conta Mônica, que acompanha o pai na hospedaria de cuidados paliativos da Secretaria Municipal da Saúde, onde ele está há 13 dias, após ter ficado outros 15 no hospital.
A filha diz apoiar integralmente a decisão do pai. "Ele sempre foi um homem ativo. Não quero vê-lo sofrer ainda mais em uma UTI, sendo mantido artificialmente. Aqui ele está bem, sereno, sem dor."
Mônica diz ser contra a eutanásia, defende a ortotanásia e não entende a confusão que a última vem provocando. "Jamais autorizaria qualquer procedimento que apressasse a morte do meu pai. Mas não quero que o entubem ou o reanimem se o coração dele parar. Quero que a vida dele siga o rumo naturalmente."

Desenganada
Opinião semelhante tem a empresária Ana Maria Bastos Marin, 58. Quando a mãe foi desenganada por causa de um câncer de pâncreas que já havia atingido outros órgãos, a decisão da família e do médico foi de que ela não ficaria no hospital. "Minha mãe ficou um ano e meio em casa, não foi internada nem sentia dores porque foi bem cuidada. Sabíamos que não faltava tratamento."
Sua mãe só foi internada nos últimos cinco dias de vida, com falência dos rins. Ainda assim, não foi para a UTI. No quarto, pôde ser acompanhada de filhos e netos. "Minha mãe morreu bem, no meio da gente."
Para Ana Maria, lembrar a mãe dessa forma é bem mais fácil. "Ela não ficou cheia de tubos nem com a cara abatida, foi uma privilegiada. A forma como tudo foi conduzido fez diferença e foi muito importante para a minha família." (CLÁUDIA COLLUCCI e JULLIANE SILVEIRA)

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