São Paulo, domingo, 28 de janeiro de 2001

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Contratação de mão-de-obra é comum, afirma polícia; transportadores são conhecidos como "formiguinhas"

Pagamento a lavrador é feito em maconha

DA AGÊNCIA FOLHA, EM CORONEL SAPUCAIA

A contratação de mão-de-obra para trabalhar em plantações de maconha é uma prática comum tanto em Coronel Sapucaia (MS) como em Capitán Bado, no Paraguai, segundo informações das polícias das duas cidades.
O pagamento, em alguns casos, costuma ser em espécie. Foi o que aconteceu com o lavrador Claudinei Gomes da Rocha, 20, que trabalhou um mês em uma fazenda em Coronel Sapucaia. No acerto salarial, ele recebeu dez quilos de maconha. Ao tentar levar a droga para vender em Dourados (MS), Rocha foi descoberto pela polícia. Hoje, está preso em Amambaí e pode ser condenado a até quatro anos de prisão.
"Fui contratado para fazer uma roçada em uma fazenda onde, provavelmente, iriam plantar maconha. Estava precisando de dinheiro. No final do serviço me disseram que o pagamento seria em espécie. Para não ficar no prejuízo tentei vender a droga, mas fui apanhado", disse, sem revelar quem o contratou.
Em Mato Grosso do Sul, 2.000 dos 3.300 presos no Estado cumpriam pena ou aguardavam julgamento por tráfico de drogas, principalmente maconha, segundo dados do final de dezembro da Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário.
Na maior parte, de acordo com a agência, são desempregados e semi-analfabetos que se arriscam para transportar a droga. No presídio de Amambaí (MS), por exemplo, 85 dos 103 presos cumprem pena que varia de 4 a 12 anos de prisão por tráfico.
As pessoas contratadas são conhecidas na região por "formiguinha", denominação dada aos traficantes que tentam transportar a droga por ônibus, bicicleta, táxi ou a pé.
José Carlos Santilio, 24, preso em Amambaí, é um desses "formiguinhas". Pai de três filhos, ele estava desempregado quando aceitou a proposta de um homem que ele diz que não conhecia.
Ganharia R$ 500 caso conseguisse entregar uma sacola com 55 quilos de maconha a uma pessoa também desconhecida na rodoviária de Curitiba (PR).
"Estava desempregado e tinha de pagar o aluguel. Podia ganhar uma grana, mas deu tudo errado", disse Santilio, que foi preso dez minutos após ter embarcado, durante uma barreira policial.
Pelo crime, Santilio, que era réu primário, foi condenado a quatro anos e dois meses de prisão. "Nunca mais faço isso, mesmo passando fome. Quero ter uma vida normal." (CELSO BEJARANO JR.)




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