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SAÚDE
Pesquisa do HC aponta crise no sexo
KATIA STRINGUETO
ESPECIAL PARA A FOLHA
Mais exposição e menos desempenho. A população fala mais sobre sexo, mas a disposição para o
ato e a qualidade da vida sexual
estão em xeque.
Essas são as conclusões de um
levantamento realizado pelo Projeto Sexualidade (ProSex) do Instituto de Psiquiatria do Hospital
das Clínicas de São Paulo.
A pesquisa revelou também que
os homens são, de longe, os mais
preocupados em resolver suas dificuldades. As mulheres começam a se desinibir, mas ainda falta
muito para virarem o jogo.
Informações de 2.000 pacientes
que foram atendidos nos sete
anos de funcionamento do serviço (de 1993 a 2000) foram analisadas. Desses, 70,2% são homens e
29,8%, mulheres.
No aspecto positivo, o que mais
chama a atenção é o aumento no
número de mulheres que procuram o ProSex para resolver suas
dificuldades na cama.
No início do projeto, eram atendidos seis homens para cada mulher. Hoje esse índice é de dois homens por mulher. "Elas não aceitam mais transar sem sentir prazer", diz a psiquiatra Carmita Abdo, coordenadora do ProSex.
Essa reação é vital, já que especialistas acreditam que as mulheres estão mais vulneráveis a problemas sexuais do que os homens.
Três motivos são apontados: o
hormônio feminino estrógeno é
menos potente do que o masculino (andrógeno) e despertaria menos o desejo; culturalmente elas
não foram educadas para serem
eróticas; e, fisicamente, têm maior
dificuldade de se estimularem.
Outra mudança indicada na
pesquisa se refere à queixa masculina. Hoje a principal angústia
dos homens é a disfunção erétil
(também chamada de impotência). Cerca de 40% dos homens
apresentam o problema. Em 1993,
a ejaculação precoce era a campeã
de consultas: 43,9%, contra 41,1%
por disfunção erétil.
Mas a ejaculação precoce não
deixou de incomodar. Segundo
Carmita, a reviravolta coincide
com o aparecimento das pílulas
contra a disfunção erétil (Viagra,
Vasomax, Regitina), em meados
de 1998. "Com a eclosão do medicamento oral, uma solução prática, e a grande divulgação sobre o
tema da impotência, muitos homens que mantinham o problema escondido começaram a procurar tratamento."
Ajuda
O surgimento das pílulas contribuiu para que os homens buscassem ajuda mais cedo. Pelo menos
no ProSex. Em média, levava
aproximadamente quatro anos
para um homem se considerar
impotente e buscar ajuda. Atualmente, procuram o médico após
alguns meses, segundo Carmita.
A realidade é um pouco diferente no Instituto H. Ellis de Sexualidade, também em São Paulo, que
atende as classes média e alta. Os
pacientes continuam levando
quatro anos para procurar atendimento. A disfunção erétil é a recordista de consultas.
O urologista Sidney Glina explica que a dificuldade de ereção é a
via final de uma série de problemas. Por isso acaba sendo a principal queixa. "Uma pessoa que
convive bem com a ejaculação
precoce pode começar a ficar ansiosa se encontra uma mulher que
cobra uma relação mais lenta. A
ansiedade pode fazê-lo perder a
ereção e daí ele acha que está impotente e procura o médico."
No item das diferenças entre os
sexos, o ProSex confirmou: o homem está sempre atento a qualquer alteração de performance,
independentemente de seu estado civil. Já entre as mulheres, as
casadas são maioria na hora de
buscar ajuda especializada.
O mesmo ocorre em outro serviço público, o ambulatório de sexologia do Caisme (Centro de
Atenção Integral à Saúde da Mulher), da Universidade Estadual
de Campinas (Unicamp).
Ter um parceiro fixo parece pesar na hora de decidir ir ao médico. "Boa parte das pacientes têm
medo de perder o casamento",
afirma Nilva Ferreira Pereira,
coordenadora do ambulatório.
O fato de 30% das frequentadoras do ProSex serem donas-de-casa também permite outra interpretação. "Elas têm mais tempo
para frequentar o projeto do que
as que trabalham fora, e valorizam muito a função sexual, porque é o que elas têm a oferecer para os maridos", disse Carmita.
Orgasmo difícil
No universo feminino, as principais queixas não mudaram.
Ainda se sofre muito para atingir
o êxtase. A falta de desejo e a dificuldade para chegar ao orgasmo
angustiam 70% das pacientes.
Em média, elas procuram atendimento numa faixa etária inferior à dos homens: dos 21 aos 40
anos. Eles costumam buscar ajuda dos 31 aos 40 anos, quando começa a surgir a impotência.
O mais surpreendente é o índice
de mulheres que não sente mais
disposição para o sexo. Uma pesquisa feita pelo ProSex em parceria com o ambulatório de ginecologia do HC apontou que 12,5%
das pacientes entre 40 e 45 anos
sentem dor durante a relação.
Isso acontece não por causa de
secura vaginal -sintoma que dificulta a penetração-, mas porque a mulher vive problemas conjugais e já desistiu de ter uma vida
sexualmente ativa.
Média mundial
Com uma média de 20 pacientes
novos por semana -em 1993
eram dez por semana-, o ProSex
contabiliza o quanto se está querendo viver bem o sexo. Mas o
projeto também revela o quanto
está difícil alcançar esse objetivo.
Em comparação com números
mundiais, os indicadores apurados revelam que a sexualidade
dos paulistanos está na média.
"Fala-se muito, expõe-se muito o
corpo, mas, na verdade, o exercício da sexualidade tem se tornado
uma atividade quase heróica em
todo o mundo", diz Carmita.
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