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Fatores locais e globais inflam chuva em SP
Fenômenos nos oceanos Pacífico e Atlântico empurram a umidade da floresta amazônica para as regiões Sul e Sudeste
Em São Paulo, concreto joga mais calor na atmosfera; janeiro bateu recorde de chuvas na cidade e previsão é que continuem até março
EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL
O aguaceiro que cai sobre São
Paulo neste mês é resultado de
fatores climáticos locais somados a outros mais globais, afirmam os meteorologistas.
Todos eles, em última análise, estão empurrando muita
umidade para todo Sul e Sudeste do país. O que tem causado
mortes, prejuízos materiais e
transbordamento de represas.
"A maior contribuição de
chuva durante o verão é a umidade e o aquecimento decorrente da própria época em que
estamos", afirma o pesquisador
Carlos Augusto Morales, chefe
da estação meteorológica do
Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas
da Universidade de São Paulo.
Existem ainda outros fatores
climáticos inflando a potência
das chuvas principalmente sobre São Paulo, diz o especialista. "Adicionalmente, temos a
atuação do El Niño [o nome faz
referência ao menino Jesus,
porque o fenômeno surge sempre no Pacífico durante o período natalino] e de uma zona de
convergência de umidade",
afirma Morales.
Enquanto no primeiro caso o
aquecimento rápido das águas
do oceano altera o padrão de
ventos sobre grande parte da
América do Sul, no segundo
existe uma conexão direta entre
floresta amazônica e São Paulo.
"A umidade daquela região
está sendo trazida para o Sudeste e o Sul do Brasil", diz Morales. A umidade que vem do
Norte é resultado direto do
aquecimento das águas do
Atlântico. Fenômeno também
observado pelos cientistas nesta época do ano.
A região metropolitana de
São Paulo, não bastasse a umidade acima média que chega
até ela, tem mais um agravante,
diz Augusto Pereira Filho, também da USP.
Por causa da impermeabilização, afirma o especialista, as
chuvas aqui têm ocorrido de
forma mais rápida e concentrada. O calor que emana do concreto paulistano joga mais calor
na atmosfera. Isso engorda as
nuvens, que descarregam água
de forma mais violenta.
Os radares pilotados por Pereira Filho mostram claramente essa situação, diz ele. "Nuvens com até 18 km de altura."
A quantidade de chuvas registradas por dois institutos diferentes em São Paulo coloca o
atual mês de janeiro entre os
mais chuvosos de que se tem
notícia. O problema é que o país
tem séries históricas relativamente curtas, o que deixa essa
contextualização prejudicada.
Segundo os dados da USP, o
atual janeiro já é o mês mais
chuvoso registrado, com 577
mm até ontem. As medições na
estação meteorológica no Parque do Estado (zona sul) começaram em 1933.
Para o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), que
faz medições no Mirante de
Santana, o mês atual está na
terceira posição da série histórica deles, que começa em 1943.
Na zona norte, até ontem, havia chovido 426,8 mm. Os dois
primeiros colocados do ranking são os meses de janeiro
dos anos de 1947 (481,4 mm) e
de 1987 (442,3 mm).
"Não é possível afirmar qual
fator é mais importante em relação aos outros", diz Franco
Villela, do Inmet. "O inverno de
2009 já teve muitas chuvas. Esse será um período que ainda
vai demandar muita análise
[para saber o que está ocorrendo]." As chuvas devem continuar até março, diz a previsão.
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