São Paulo, terça-feira, 28 de fevereiro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ARTE PERDIDA

Para a polícia, ele foi atacado e obrigado a conduzir os ladrões do Museu da Chácara do Céu, na região central do Rio

PF acha motorista que transportou quadros

MICHELLE STRZODA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO

A Polícia Federal localizou ontem o motorista de uma Kombi que disse ter conduzido os quatro ladrões que, na sexta-feira, roubaram do Museu da Chácara do Céu, no Rio, quatro quadros de Pablo Picasso, Salvador Dalí, Henri Matisse e Claude Monet.
O motorista, cujo nome não foi divulgado, contou em depoimento ter sido obrigado pelo assaltantes a conduzi-los. A PF não divulgou o local para onde a Kombi seguiu com a quadrilha. O carro foi apreendido e será periciado.
Após o depoimento, o motorista foi liberado. Para a PF, ele não participou do roubo e teria sido atacado ao passar pelas proximidades do museu.
Os quadros levados do Museu da Chácara do Céu (Santa Teresa, região central do Rio) são "Os Dois Balcões" (1929), de Dalí; "A Dança"(1956), de Picasso; "Marine" (1880-1890), de Monet, e "Jardim de Luxemburgo" (1903), de Matisse, além de um livro de gravuras de Picasso.
Conforme a Folha revelou ontem, o quadro "A Dança" foi perfurado quando o vigia Roberto Machado, 61, tentou, sem sucesso, arrancá-lo dos assaltantes.

Alvos no Brasil
A falta de segurança e a riqueza dos acervos das igrejas e museus fizeram com que o Brasil passasse a alvo das quadrilhas especializadas no tráfico de bens culturais, informou ontem a Interpol (Polícia Internacional).
De acordo com o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), o comércio clandestino de bens culturais só é superado, no mundo, pelo tráfico de drogas e de armas.
O coordenador do Departamento de Museus do Iphan no Estado do Rio, Mário Chagas, 49, afirmou que o roubo das obras não aconteceu por uma falha interna. Para ele, a ação dos assaltantes reflete a falta de segurança do país. "A segurança de um museu não pode ser comparada à de um banco. Ainda assim, os bancos sofrem assaltos", disse.
A Interpol informou que há dois anos forma, em parceria com o Iphan, grupos de trabalho para estudar estratégias de prevenção a ações criminosas contra bens culturais do Brasil. Os alvos preferenciais das quadrilhas são peças de arte marajoara e obras sacras.
"As igrejas não têm segurança apropriada. É necessário intensificar a vigilância", alertou o agente federal Marcos Toneli, 38, que trabalha na Interpol em Brasília.
De acordo com o coordenador do Iphan, as declarações da delegada Isabelle Vasconcelos, da Delemaph (Delegacia de Repressão a Crimes Contra o Meio Ambiente e Patrimônio Cultural, da Superintendência da PF no Estado), surpreenderam a entidade. Responsável pela investigação, a delegada afirmou anteontem considerar inadequada a segurança do museu roubado.
"A Polícia Federal deve trabalhar em parceria com o Iphan. Queremos recuperar as obras, prender os ladrões e acabar com as quadrilhas", disse Chagas.
De acordo com o coordenador, nunca os museus foram tão seguros como hoje. Para ele, todas as instituições de arte no mundo sofrem risco de assaltos e furtos. Apesar de as obras roubadas terem valor zero no mercado oficial, elas podem vir a ser comercializadas no mercado negro.


Texto Anterior: Cores e lanças: Pernambuco tem arrastão de maracatu
Próximo Texto: Violência: Polícia de Portugal investiga morte de um travesti que seria brasileiro
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.