São Paulo, domingo, 28 de março de 2004

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AMBIENTE

Trabalho no maior pólo petroquímico do país indica presença de nitrato no lençol freático e ameaça às águas subterrâneas

Estudo aponta novo risco de contaminação em Paulínia

CAROLINA FARIAS
FREE-LANCE PARA A FOLHA CAMPINAS

As reservas de águas subterrâneas na região de Paulínia, maior pólo petroquímico do país, estão sob ameaça de contaminação.
O nitrato, identificado em quatro amostras coletadas pela Secretaria de Estado do Meio Ambiente, indica que a área está sujeita a ser afetada por outros poluentes.
A descoberta do nitrato no lençol freático ocorreu durante projeto piloto na região. Paulínia (SP) ficou conhecida pela contaminação por pesticidas, causada pela Shell, que levou à remoção de 265 moradores do bairro Recanto dos Pássaros. A Shell foi obrigada a comprar 66 propriedades.
A cidade tem 107 indústrias, 3.810 propriedades agrícolas e 40 distribuidoras de combustíveis.
Para a secretaria, a situação não é alarmante, já que a concentração de nitrato, em só uma amostra, alcançou 5 mg/litro, metade do nível considerado de atenção.
Mas, como estabeleceu a Cetesb (agência ambiental paulista), quando uma substância química atinge metade do valor padrão, as atenções devem se voltar para a prevenção da contaminação, pois o risco se torna iminente.
O nitrato afeta o ambiente e afeta a oxigenação no cérebro de fetos, levando a retardamento mental. Para a Cetesb, a presença de nitrato decorre de industrialização, construção de poços para captar água subterrânea e, principalmente, uso de fertilizantes.

Método
O projeto, que abrangeu dez cidades no entorno de Paulínia, refinou a análise de capacidade ambiental de áreas sujeitas a receber empreendimentos: uniu material sobre a situação da área, como relatórios da qualidade do ar, água e solo, dados históricos e mapas topográficos e hidrológicos. Com isso, é possível fazer uma aproximação maior da causa da degradação existente e do efeito que pode ter um novo empreendimento.
"O que fizemos foi misturar de forma lógica todos os dados de controle ambiental. O objetivo é achar a causa da degradação e os efeitos que um novo empreendimento traria", diz o coordenador do projeto, Cláudio Alonso, 58. Segundo ele, a região de Paulínia foi escolhida para o teste pela similaridade geográfica com outras áreas do Estado e por sofrer alto impacto do parque industrial.
Além desses fatores, há anos a região tem todos os dados ambientais coletados pela secretaria. Segundo Alonso, o projeto levou à publicação da "Carta de Uso e Ocupação da Região de Paulínia".
"O documento é mais uma ferramenta com as principais fontes de poluição da região. Tudo estará na internet. Vamos divulgar isso ao máximo, para gerar interesse até em quem não é técnico."
Durante o levantamento, a secretaria também constatou que a região perdeu quase toda a mata nativa nos últimos dez anos. O crescimento da mancha urbana em dez vezes, entre 1978 e 1999, contribuiu para a devastação.
Dos vestígios de mata nativa, a maioria está no entorno de 15% das indústrias dessa região.


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