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IDOSOS
Há problemas de convívio entre gerações e de inserção dos "centenários", que, em dez anos, aumentaram 77% no Brasil
Expansão da 4ª idade cria novos desafios
ROBERTO DE OLIVEIRA
DA REVISTA
- Engraçado, a senhora não
me é estranha -puxa assunto
Mercedes Figueiredo, 106.
- Será!?-, pergunta Rafaela
Mercadante de Azevedo, 105.
- É, acho que a gente se conhece do outro mundo -brinca
Mercedes.
"Do outro mundo", não, mas
"de um outro mundo", certamente bem diferente, é possível, pensou o repórter ao olhar as duas
mulheres nascidas no século 19.
Sozinho, cada entrevistado desta reportagem tem um quinto da
idade do país; juntos, 521 anos.
Chegar tão longe com uma saúde
razoável é impressionante, mas é
bom a sociedade se acostumar.
"O planeta atravessa o maior fenômeno de envelhecimento já vivido, com a presença cada dia
maior de centenários", diz o médico Alex Kalache, 58, coordenador do Programa de Saúde e Envelhecimento da OMS (Organização Mundial da Saúde).
São os integrantes da chamada
quarta idade, termo que surgiu no
final dos anos 90, quando a expressão terceira idade, cunhada
na década de 40, para classificar
sexagenários, ficou defasada.
Segundo a mais recente projeção populacional da ONU, o número de centenários deve saltar
quase 2.000% na primeira metade
deste século, passando de cerca de
cerca de 167 mil estimados em
2000 para 3,3 milhões em 2050.
No Brasil, a projeção se baseia
em números desatualizados -a
ONU atribui ao país cerca de 1.700
centenários em 2000, bem abaixo
dos 24.576 registrados pelo IBGE
há pouco mais de três anos. No
país, de 1991 a 2000, o número de
habitantes com 100 anos ou mais
aumentou 77%, enquanto a população total cresceu 15,6%.
O convívio entre a quarta idade
e as gerações mais novas é considerado pela OMS um dos grandes
desafios. A maior preocupação é
mudar a visão em relação ao idoso. "Se estiver saudável, deve passar a ser visto também como um
recurso a mais", explica Kalache.
Na Europa, EUA e Japão, lugares que terão a maior concentração de centenários até 2050, o envelhecimento já apresenta impacto em todos os aspectos sociais.
Replanejamento urbano, por
exemplo, faz parte da pauta.
"Há também que aumentar as
oportunidades educacionais a
partir da terceira idade." Essa tarefa será mais difícil para os países
em desenvolvimento. "Os desenvolvidos primeiro enriqueceram
para depois envelhecerem. Os do
Sul estão envelhecendo antes de
serem ricos", afirma Kalache.
Sempre elas
As mulheres representam a
grande maioria de centenárias no
mundo. No Brasil, são quase 58%.
"Os homens sempre se submeteram a uma carga maior de estresse, fumo, bebida, acidentes e violência", diz a geriatra Andrea Prates, 45, coordenadora do Cies
(Centro Internacional de Informação para o Envelhecimento
Saudável), de São Paulo.
Por enquanto, sabe-se muito
pouco sobre o fenômeno. Uma
teoria popular nos EUA, país com
o maior número de centenários
do planeta (75,4 mil), diz que são
abençoados por uma espécie rara
de mutação genética, que geraria
células protetoras de doenças do
coração ou diabetes, entre outras.
"É inegável que o fator genético
ajuda, mas ele, sozinho, não explica. A forma como esse centenário
viveu é ainda mais importante",
diz Clineu de Mello Almada Filho,
43, geriatra da Unifesp. Jacob Filho, do HC, concorda. "O ambiente onde se vive é indispensável. A boa composição genética se
manifesta em condições favoráveis e se oculta nas desfavoráveis."
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