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SAÚDE
Para especialistas, demora no acesso e falta de regionalização e de investimento na rede deterioram imagem do SUS
"Lembrança das filas fica na memória"
DA REPORTAGEM LOCAL
Há dois grupos de pessoas que
guardam uma péssima imagem
da rede do SUS: um que nunca
utilizou seus serviços e só tem notícia deles pelas informações que
aparecem na mídia, e o outro, que
já enfrentou filas e não conseguiu
ser atendido.
"Quem conseguiu atendimento
fala bem do SUS", diz o médico
Gilson Carvalho, especialista em
saúde pública. "Mas a lembrança
da fila vai ficar na memória."
Para Carvalho, além da "insuficiência na oferta de serviços" do
SUS, o problema está na "adoção
de um modelo americanizado",
que exagera no uso de remédios,
de exames e de especialistas.
"A pessoa enfrenta várias filas: a
do primeiro atendimento, a dos
exames, a do especialista, a da internação, a dos remédios."
Segundo Carvalho, o Brasil investiu em 2001 US$ 216 por pessoa
em saúde, somados gastos públicos e privados. A Argentina, por
exemplo, gasta US$ 500. Os países
desenvolvidos investem de US$
1.500 a US$ 2.000.
Mas não é só dinheiro que falta, é também racionalização da gestão, diz José Luiz Spigolon, superintendente da Confederação das Santas Casas, Hospitais e Entidades Filantrópicas.
A instituição reúne 2.200 estabelecimentos de saúde que, no
ano passado, realizaram 34,7% de
todos os internamentos pelo SUS,
um total de 4,3 milhões.
"As filas são problemas nos
grandes centros, mas nas cidades
menores já não há espera", ele diz.
"O que falta é um direcionamento, com uma central de vaga que
encaminhe o paciente para a instituição certa. Os gestores do SUS
precisam organizar a rede de forma a hierarquizar e regionalizar o
serviço. Estima-se que 50% dos
leitos do país estejam ociosos."
O sanitarista Mario Scheffer, representante dos usuários no Conselho Nacional de Saúde, diz que a pesquisa confirma levantamentos
anteriores. "Quem é atendido pelo SUS está relativamente satisfeito. Mas há uma parcela da população que não tem acesso e nem
sabe onde está o SUS."
Ele lembra o sucateamento dos
hospitais, os baixos salários que
não atraem e deixam os profissionais insatisfeitos e a cultura generalizada de procurar as grandes
instituições, os hospitais, em lugar de começar pelo posto de saúde do bairro onde a pessoa mora.
A humanização dos serviços
também é uma queixa. Entre os
problemas da rede citados na pesquisa, o tratamento descortês e
desrespeitoso e "médicos mal
preparados, que não resolvem o
problema", aparecem logo depois
das queixas pelas filas. "O Ministério da Saúde vem defendendo
mudanças nos currículos das escolas médicas para humanizar o
atendimento", diz Scheffer.
(AURELIANO BIANCARELLI)
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