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São Paulo, segunda-feira, 28 de abril de 2003

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SAÚDE

Para especialistas, demora no acesso e falta de regionalização e de investimento na rede deterioram imagem do SUS

"Lembrança das filas fica na memória"

DA REPORTAGEM LOCAL

Há dois grupos de pessoas que guardam uma péssima imagem da rede do SUS: um que nunca utilizou seus serviços e só tem notícia deles pelas informações que aparecem na mídia, e o outro, que já enfrentou filas e não conseguiu ser atendido.
"Quem conseguiu atendimento fala bem do SUS", diz o médico Gilson Carvalho, especialista em saúde pública. "Mas a lembrança da fila vai ficar na memória."
Para Carvalho, além da "insuficiência na oferta de serviços" do SUS, o problema está na "adoção de um modelo americanizado", que exagera no uso de remédios, de exames e de especialistas.
"A pessoa enfrenta várias filas: a do primeiro atendimento, a dos exames, a do especialista, a da internação, a dos remédios."
Segundo Carvalho, o Brasil investiu em 2001 US$ 216 por pessoa em saúde, somados gastos públicos e privados. A Argentina, por exemplo, gasta US$ 500. Os países desenvolvidos investem de US$ 1.500 a US$ 2.000.
Mas não é só dinheiro que falta, é também racionalização da gestão, diz José Luiz Spigolon, superintendente da Confederação das Santas Casas, Hospitais e Entidades Filantrópicas.
A instituição reúne 2.200 estabelecimentos de saúde que, no ano passado, realizaram 34,7% de todos os internamentos pelo SUS, um total de 4,3 milhões.
"As filas são problemas nos grandes centros, mas nas cidades menores já não há espera", ele diz. "O que falta é um direcionamento, com uma central de vaga que encaminhe o paciente para a instituição certa. Os gestores do SUS precisam organizar a rede de forma a hierarquizar e regionalizar o serviço. Estima-se que 50% dos leitos do país estejam ociosos."
O sanitarista Mario Scheffer, representante dos usuários no Conselho Nacional de Saúde, diz que a pesquisa confirma levantamentos anteriores. "Quem é atendido pelo SUS está relativamente satisfeito. Mas há uma parcela da população que não tem acesso e nem sabe onde está o SUS."
Ele lembra o sucateamento dos hospitais, os baixos salários que não atraem e deixam os profissionais insatisfeitos e a cultura generalizada de procurar as grandes instituições, os hospitais, em lugar de começar pelo posto de saúde do bairro onde a pessoa mora.
A humanização dos serviços também é uma queixa. Entre os problemas da rede citados na pesquisa, o tratamento descortês e desrespeitoso e "médicos mal preparados, que não resolvem o problema", aparecem logo depois das queixas pelas filas. "O Ministério da Saúde vem defendendo mudanças nos currículos das escolas médicas para humanizar o atendimento", diz Scheffer.
(AURELIANO BIANCARELLI)


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