São Paulo, segunda-feira, 28 de maio de 2007

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Aluno de família com "projeto" tem melhor nota

Existência de projeto de futuro diferencia famílias pobres que valorizavam a educação

Organização familiar e características das escolas públicas e das turmas podem afetar a absorção de conhecimento

DA SUCURSAL DO RIO

Em todas as análises sobre desempenho de alunos, os fatores renda e escolaridade dos pais sempre aparecem como os que mais influenciam as notas. Apesar da importância desses dois fatores, há atitudes que independem da renda ou da instrução e que ajudam famílias, mesmo as mais pobres, a melhorarem a nota de seus filhos.
A coordenadora-geral do Cenpec (Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária), Carminha Brant, cita como exemplo disso um estudo do sociólogo francês Bernard Lahire (autor de ""Sucesso Escolar nos Meios Populares: As Razões do Improvável"). Ele pesquisou as razões do sucesso escolar nos meios populares e concluiu que a existência de um projeto de futuro era um fator que diferenciava famílias pobres que valorizavam mais a educação do que outras.
"Ter um projeto de futuro significa que aquela família tem um grau mínimo de organização da vida doméstica. Se o trabalhador, ainda que autônomo, paga o INSS, isso mostra que ele tem um projeto de futuro. São coisas que você percebe também, por exemplo, na arrumação da própria casa. Há barracos em favelas que têm uma estética mínima e outros que não têm", diz Brant.
Ela afirma também que, ao iniciar um trabalho com escolas públicas, é preciso ter em mente que há uma heterogeneidade enorme entre diversas comunidades.
"Há várias expressões da pobreza. Na área rural, a cultura de oralidade é muito forte e as famílias, por isso, tendem a valorizar pouco a escola como espaço de letramento. Numa cidade grande, há famílias pobres que têm clareza da importância do letramento, mesmo que sejam pouco escolarizadas. Outras, no entanto, já entraram em trilhas de vulnerabilidade tão fortes e não têm projeto nenhum de futuro, o que acaba tendo impacto no desempenho das crianças", afirma a coordenadora do Cenpec.

Salário do professor
A diferença no desempenho entre crianças na rede pública depende também das características das escolas.
Como mostram os estudos de Naércio Menezes Filho, escolas onde há mais de cinco horas de aula diárias e onde há turmas heterogêneas -com alunos mais pobres ao lado de outros de maior renda- se saem melhor do que as demais.
O salário do professor, no entanto, faz pouca diferença na rede pública, diferentemente do que acontece na particular. Para Menezes, há uma explicação simples: "No sistema privado os melhores professores obtêm maiores salários, o que não ocorre na rede pública".


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