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Aluno de família com "projeto" tem melhor nota
Existência de projeto de futuro diferencia famílias pobres que valorizavam a educação
Organização familiar e características das escolas públicas e das turmas podem afetar a absorção de conhecimento
DA SUCURSAL DO RIO
Em todas as análises sobre
desempenho de alunos, os fatores renda e escolaridade dos
pais sempre aparecem como os
que mais influenciam as notas.
Apesar da importância desses
dois fatores, há atitudes que independem da renda ou da instrução e que ajudam famílias,
mesmo as mais pobres, a melhorarem a nota de seus filhos.
A coordenadora-geral do
Cenpec (Centro de Estudos e
Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária), Carminha Brant, cita como exemplo
disso um estudo do sociólogo
francês Bernard Lahire (autor
de ""Sucesso Escolar nos Meios
Populares: As Razões do Improvável"). Ele pesquisou as razões do sucesso escolar nos
meios populares e concluiu que
a existência de um projeto de
futuro era um fator que diferenciava famílias pobres que
valorizavam mais a educação
do que outras.
"Ter um projeto de futuro
significa que aquela família tem
um grau mínimo de organização da vida doméstica. Se o trabalhador, ainda que autônomo,
paga o INSS, isso mostra que
ele tem um projeto de futuro.
São coisas que você percebe
também, por exemplo, na arrumação da própria casa. Há barracos em favelas que têm uma
estética mínima e outros que
não têm", diz Brant.
Ela afirma também que, ao
iniciar um trabalho com escolas públicas, é preciso ter em
mente que há uma heterogeneidade enorme entre diversas
comunidades.
"Há várias expressões da pobreza. Na área rural, a cultura
de oralidade é muito forte e as
famílias, por isso, tendem a valorizar pouco a escola como espaço de letramento. Numa cidade grande, há famílias pobres
que têm clareza da importância
do letramento, mesmo que sejam pouco escolarizadas. Outras, no entanto, já entraram
em trilhas de vulnerabilidade
tão fortes e não têm projeto nenhum de futuro, o que acaba
tendo impacto no desempenho
das crianças", afirma a coordenadora do Cenpec.
Salário do professor
A diferença no desempenho
entre crianças na rede pública
depende também das características das escolas.
Como mostram os estudos
de Naércio Menezes Filho, escolas onde há mais de cinco horas de aula diárias e onde há
turmas heterogêneas -com
alunos mais pobres ao lado de
outros de maior renda- se
saem melhor do que as demais.
O salário do professor, no entanto, faz pouca diferença na
rede pública, diferentemente
do que acontece na particular.
Para Menezes, há uma explicação simples: "No sistema privado os melhores professores obtêm maiores salários, o que não
ocorre na rede pública".
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