São Paulo, domingo, 28 de junho de 2009

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Controle da gripe pode ser modelo, diz médico

O epidemiologista Roberto Medronho diz que articulação eficaz contra a gripe suína deve servir ao combate de outras epidemias

Tradicional crítico das ações contra a dengue, professor elogia a articulação do Ministério da Saúde, mas não descarta risco de epidemia

MÁRCIO PINHO
REPORTAGEM LOCAL

Tradicional crítico de estratégias e resultados alcançados pelo Brasil no combate à dengue, o epidemiologista Roberto Medronho tem ponto de vista diferente quando o assunto é a gripe A (H1N1) -a gripe suína. O chefe do departamento de medicina preventiva da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) diz que a estratégia do governo tem alcançado resultados e propiciado um bom sistema de monitoramento e resposta à doença. Ele destaca que a experiência poderá ajudar a melhorar o combate a outras epidemias no futuro.

 

FOLHA - O que acha da forma como o país vem enfrentando a doença?
ROBERTO MEDRONHO -
As recomendações adotadas pelas secretarias municipais e estaduais, sob a coordenação do Ministério da Saúde, têm sido bastante adequadas. Claro que há problemas pontuais, mas isso ocorre em todos os países. A articulação entre os níveis do SUS está funcionando no monitoramento dos casos, há uma comunicação grande, sem disputas, com bastante colaboração. Que sirva para o monitoramento de possíveis epidemias futuras de dengue.

FOLHA - As pessoas devem se preocupar com a gripe suína?
MEDRONHO -
Pânico e histeria são péssimos conselheiros nessa hora. Precisamos estar alertas. Temos que ter uma conduta serena, mas sem vacilar. Diante de um caso suspeito deve-se procurar atendimento.

FOLHA - O que sabemos do vírus?
MEDRONHO -
É um vírus novo. Sabemos pouco. Inicialmente acreditava-se, como houve muitos mortos no México, que fosse muito agressivo, como é a gripe aviária, muito letal. Hoje sabemos que o quadro apresentado no México não se configurou em vários outros países.

FOLHA - Como vê a decisão anunciada pelo ministério de usar medicamento só em casos graves?
MEDRONHO -
Com o aumento do número de suspeitos no mundo, mais gente toma remédio. Pode ter casos em que as pessoas suspendem o tratamento e o vírus que sobrevive não foi afetado pelo remédio. Isso pode ampliar sua resistência.

FOLHA - Teremos uma epidemia?
MEDRONHO -
Estamos sob risco iminente de uma epidemia. Isso a despeito das medidas que estamos adotando. Não temos tecnologia, por exemplo, para detectar se uma pessoa assintomática está ou não com o vírus. Com o aumento de pessoas chegando contaminadas, há a probabilidade de que algumas não procurem um serviço de saúde ou que, mesmo procurando, já tenham contaminado um número grande de pessoas. Com o inverno e a epidemia no Chile e na Argentina, as medidas podem não ser suficientes. É possível que haja essa epidemia. Mas acho que não terá letalidade alta, talvez até menor que a da gripe comum.

FOLHA - A vacina é a saída?
MEDRONHO -
A vacina é a grande esperança. E a notícia de que estudos já conseguem resultados iniciais é alvissareira.

FOLHA - Como vê o fechamento de escolas e dispensas em empresas?
MEDRONHO -
É um exagero. Ainda mais com posto de saúde fechando, como ocorreu em Nova Friburgo. Não há recomendação para fechar.

FOLHA - Qual sua avaliação da notificação de doenças no Brasil, usada no monitoramento da gripe suína?
MEDRONHO -
Seu desempenho varia muito de doença para doença. Neste caso o sistema tem funcionado bastante bem, assim como para Aids, tuberculose e meningite. Para a dengue já é mais complicado: há casos assintomáticos, outros com sintomas leves, em que as pessoas não procuram assistência médica. Os dados da dengue são a ponta de um iceberg.


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