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Controle da gripe pode ser modelo, diz médico
O epidemiologista Roberto Medronho diz que articulação eficaz contra a gripe suína deve servir ao combate de outras epidemias
Tradicional crítico das ações contra a dengue, professor elogia a articulação do Ministério da Saúde, mas não descarta risco de epidemia
MÁRCIO PINHO
REPORTAGEM LOCAL
Tradicional crítico de estratégias e resultados alcançados
pelo Brasil no combate à dengue, o epidemiologista Roberto
Medronho tem ponto de vista
diferente quando o assunto é a
gripe A (H1N1) -a gripe suína.
O chefe do departamento de
medicina preventiva da UFRJ
(Universidade Federal do Rio
de Janeiro) diz que a estratégia
do governo tem alcançado resultados e propiciado um bom
sistema de monitoramento e
resposta à doença. Ele destaca
que a experiência poderá ajudar a melhorar o combate a outras epidemias no futuro.
FOLHA - O que acha da forma como
o país vem enfrentando a doença?
ROBERTO MEDRONHO - As recomendações adotadas pelas secretarias municipais e estaduais, sob a coordenação do
Ministério da Saúde, têm sido
bastante adequadas. Claro que
há problemas pontuais, mas isso ocorre em todos os países.
A articulação entre os níveis
do SUS está funcionando no
monitoramento dos casos, há
uma comunicação grande, sem
disputas, com bastante colaboração. Que sirva para o monitoramento de possíveis epidemias futuras de dengue.
FOLHA - As pessoas devem se preocupar com a gripe suína?
MEDRONHO - Pânico e histeria
são péssimos conselheiros nessa hora. Precisamos estar alertas. Temos que ter uma conduta serena, mas sem vacilar.
Diante de um caso suspeito deve-se procurar atendimento.
FOLHA - O que sabemos do vírus?
MEDRONHO - É um vírus novo.
Sabemos pouco. Inicialmente
acreditava-se, como houve
muitos mortos no México, que
fosse muito agressivo, como é a
gripe aviária, muito letal. Hoje
sabemos que o quadro apresentado no México não se configurou em vários outros países.
FOLHA - Como vê a decisão anunciada pelo ministério de usar medicamento só em casos graves?
MEDRONHO - Com o aumento
do número de suspeitos no
mundo, mais gente toma remédio. Pode ter casos em que as
pessoas suspendem o tratamento e o vírus que sobrevive
não foi afetado pelo remédio. Isso pode ampliar sua resistência.
FOLHA - Teremos uma epidemia?
MEDRONHO - Estamos sob risco
iminente de uma epidemia. Isso a despeito das medidas que
estamos adotando. Não temos
tecnologia, por exemplo, para
detectar se uma pessoa assintomática está ou não com o vírus.
Com o aumento de pessoas
chegando contaminadas, há a
probabilidade de que algumas
não procurem um serviço de
saúde ou que, mesmo procurando, já tenham contaminado
um número grande de pessoas.
Com o inverno e a epidemia
no Chile e na Argentina, as medidas podem não ser suficientes. É possível que haja essa
epidemia. Mas acho que não terá letalidade alta, talvez até menor que a da gripe comum.
FOLHA - A vacina é a saída?
MEDRONHO - A vacina é a grande esperança. E a notícia de que
estudos já conseguem resultados iniciais é alvissareira.
FOLHA - Como vê o fechamento de
escolas e dispensas em empresas?
MEDRONHO - É um exagero.
Ainda mais com posto de saúde
fechando, como ocorreu em
Nova Friburgo. Não há recomendação para fechar.
FOLHA - Qual sua avaliação da notificação de doenças no Brasil, usada
no monitoramento da gripe suína?
MEDRONHO - Seu desempenho
varia muito de doença para
doença. Neste caso o sistema
tem funcionado bastante bem,
assim como para Aids, tuberculose e meningite. Para a dengue
já é mais complicado: há casos
assintomáticos, outros com
sintomas leves, em que as pessoas não procuram assistência
médica. Os dados da dengue
são a ponta de um iceberg.
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