São Paulo, segunda-feira, 28 de julho de 2008

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Brasileiros ficam até 6 h em aviões parados na Argentina

Ao menos 500 brasileiros que viajavam pelas Aerolíneas Argentinas foram afetados

Empresa diz que overbooking e falta de aeronaves, herdados da administração do grupo espanhol Marsans, motivaram atrasos dos vôos

ADRIANA KÜCHLER
DE BUENOS AIRES
DENISE MENCHEN
DA SUCURSAL DO RIO

Ao menos 500 brasileiros enfrentaram no fim de semana horas de espera em aeroportos para ir à Argentina e voltar por problemas na maior companhia aérea do país, a Aerolíneas Argentinas, recém-reestatizada. Os atrasos também afetaram milhares de argentinos e passageiros de outros países.
Devido ao atraso e cancelamento de vôos nos aeroportos de Ezeiza (internacional) e Aeroparque (domésticos), passageiros protestavam pela falta de informações e faziam longas filas para pedir à Aerolíneas, e à sua subsidiária Austral, o pagamento de refeições e hospedagem. Alguns vôos chegaram a ter atrasos de até 24 horas.
Segundo o cônsul-adjunto do Brasil em Buenos Aires Alexandre Silveira, na madrugada e na manhã de ontem, o plantão do consulado recebeu dezenas de chamadas de familiares que ligavam do Brasil para saber informações sobre seus parentes.
Dois brasileiros apresentaram problemas de saúde (pressão alta e problemas intestinais), mas receberam atendimento médico imediato.
No sábado, 33 vôos da empresa atrasaram e quatro foram cancelados. Ontem, um vôo para o Brasil foi cancelado e ao menos cinco atrasaram.
O novo gerente-geral da empresa, designado pelo governo, Julio Alak, disse que os problemas foram causados por overbooking e pela falta de aeronaves, problemas herdados da administração do grupo espanhol Marsans. "Recebemos a gerência da empresa há quatro dias. Houve uma gigantesca sobrevenda de passagens diante da escassez de aviões que se tem para a temporada de inverno."
Recém-reestatizada, a empresa tem dívida de US$ 890 milhões e metade da frota está parada por falta de reparação e de combustíveis. Segundo o gerente, os vôos devem se normalizar ao longo da semana.

Sem comida
"O nosso vôo era para ter saído de Bariloche às 11h de ontem, mas acabamos entrando no avião quase à meia-noite", contou a estudante Ana Carolina Rodrigues, 16, ao desembarcar no aeroporto Antônio Carlos Jobim, no Rio de Janeiro.
"Paramos em Buenos Aires para o que seria só uma escala, mas ficamos seis horas trancados dentro do avião, sem receber explicação e sem comida."
Segundo ela, apenas na manhã de ontem os passageiros deixaram a aeronave. "Ficamos esperando umas quatro horas no aeroporto, que estava lotado." Às 16h, abatido e exausto, o grupo desembarcou no Rio. Alguns adolescentes choravam.
"Ficamos sem saber o que estava acontecendo, acompanhando as notícias pela internet", conta a bancária Mônica Sppezapria, mãe de um deles.
O desembarque, porém, não significou o fim dos problemas. Alguns passageiros, como Carolina Balboa, 15, tiveram a mala extraviada. "A mala não veio. Disseram que ela pode estar no vôo seguinte, e já estou esperando há uma hora e meia."
No setor de embarque, a tensão também era grande. Irritados, passageiros com rumo a Bariloche reclamavam da falta de informações sobre o atraso, que já chegava a 24 horas.
"Deveríamos ter embarcado ontem [sábado], mas até agora nada", reclamava o médico Antônio Carlos Pereira de Souza Júnior por volta das 16h30 de ontem. Ele, a mulher e os três filhos, de 10, 11 e 22 anos, tiveram que passar a noite em um hotel, sem as malas, que tinham sido despachadas.
Em São Paulo, passageiros também reclamaram ter passado sede, fome e frio. O empresário Arnaldo Nannetti Dias Jr., 28, saiu anteontem de Miami para São Paulo, com conexão para Buenos Aires. Ele filmou quando os passageiros no setor de embarque bateram palmas em protesto pela falta de informação. Segundo ele, no avião, quando alguém pedia água, o "comissário dizia que não podia dar por causa da condição financeira da empresa".


Colaborou a Reportagem Local


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