São Paulo, domingo, 28 de agosto de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Chequer defende o fim de patente

DA SUCURSAL DO RIO

Coordenador do programa nacional de DST/Aids do Ministério da Saúde, Pedro Chequer afirmou que, se dependesse só de sua área, a quebra de patentes já teria acontecido. "Com a mudança de gestão no Ministério da Saúde [Humberto Costa saiu no mês passado para dar lugar a Saraiva Felipe], estamos com esperança renovada de que tomaremos uma decisão séria e responsável e que atenda o país", afirma.
O debate a respeito da quebra compulsória de patentes de medicamentos para baratear os cursos do programa brasileiro de Aids divide opiniões e tem hoje em seu foco principal o medicamento Kaletra, fabricado pelo laboratório Abbott. O governo tem negociado a diminuição no preço do medicamento, mas acena com a possibilidade de passar a produzi-lo compulsoriamente em laboratórios públicos.
No mês passado, em entrevista à Folha, o cientista americano Robert Gallo, diretor do Instituto de Virologia Humana da Universidade de Maryland, disse que o governo deveria "ir devagar" e "não fincar demais as esporas" nessa negociação. Para Gallo, é preciso levar em conta quanto a empresa investiu para desenvolver o remédio: "Se você faz tudo isso e não consegue vender sua droga porque todo mundo quebrou a patente, você desiste". ONGs apontaram que Gallo estava influenciado pelo discurso da indústria.
Mauro Schechter, da UFRJ, afirma que é comum desqualificar pessoas com opiniões contrárias à quebra de patentes "insinuando que estariam a serviço da indústria farmacêutica".
"O debate sobre a quebra de patentes adquiriu um caráter emocional que impede que se discuta com isenção o problema. Assim, é comum colocar como se fosse uma luta do bem contra o mal. Transformar a indústria farmacêutica na única vilã da história e, assim, contribuir para alijá-la do processo, desestimularia o desenvolvimento de novas drogas, o que pouco acrescentará ao esforço mundial de combate à Aids."
Essa posição é criticada pelas ONGs. "A sustentabilidade do programa brasileiro está ameaçada", afirma Mario Scheffer, do Grupo Pela Vidda.
(AG)


Texto Anterior: Saúde: Custo leva política de Aids a encruzilhada
Próximo Texto: Governo avalia parceria com indústria
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.