São Paulo, quinta-feira, 28 de setembro de 2006

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Arquitetos afirmam que cidade ficará livre do "caos" e do "emporcalhamento"

RICARDO GALLO
DA REPORTAGEM LOCAL

São Paulo ficará aliviada ao se ver livre do "caos", do "emporcalhamento" e do excesso de informação quando a prefeitura fizer valer a lei que proíbe outdoors na cidade, afirmam arquitetos ouvidos pela Folha.
O texto foi aprovado anteontem na Câmara e sancionado no mesmo dia pelo prefeito Gilberto Kassab (PFL). A lei passa a valer em 1º de janeiro de 2007, quando ficam proibidos painéis eletrônicos, outdoors, faixas e banners.
"Vamos sentir um alívio, porque há uma carga muito violenta hoje de poluição visual", afirmou José Eduardo Tibiriçá, vice-presidente da Asbea (Associação Brasileira de Escritórios de Arquitetura), que acredita até numa mudança de comportamento do paulistano ao ver a cidade livre da propaganda em excesso. "As pessoas passarão até a mudar a sua relação com a cidade, perceber trechos de rua com as quais vão simpatizar."
O pensamento é semelhante ao do professor Nestor Goulart Reis, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP. Na avaliação dele, deve ser a arquitetura, não a publicidade, o elemento a sobressair na paisagem urbana de São Paulo. "A aparência da cidade tem que ser dada pela própria arquitetura e não pela publicidade."
Também compartilha da mesma opinião o arquiteto Marcelo Ferraz, colaborador por mais de uma década de Lina Bo Bardi (1914-1992). "São Paulo é uma das cidades mais visualmente poluídas do mundo. Aqui a sinalização vem para esconder a boa arquitetura."

Cidade emporcalhada
A proposta de uma cidade mais bela atrás da grande quantidade tem mais adeptos entre os arquitetos. "A minha opinião é a das pessoas lúcidas: tem que tirar esses anúncios porque a cidade está emporcalhada", afirmou Carlos Lemos, professor de pós-graduação da FAU.
Segundo ele, o despoliciamento [sic] fez de São Paulo exageradamente permissiva. "Acabei de voltar de Buenos Aires, que é uma cidade limpa. Nova York só tem anúncios em determinados lugares, Paris, Londres. Nenhuma tem o despoliciamento como o daqui."
A overdose de publicidade contraria, de acordo com Nestor Reis Goulart, o conceito de que os anúncios atraem o consumidor. "Essa multiplicidade de informações leva ao caos. A aparência muito decente do centro foi utilizada para uma iniciativa pouco inteligente. Há muitos anúncios, mas o passante não lê nenhum." O único a destoar do grupo foi Ferraz, favorável à liberação "controlada" dos outdoors. Segundo ele, as peças, em determinadas paisagens, não são agressivas.
Os arquitetos ouvidos afirmaram que a fiscalização não deverá ser complexa. Com exceção das peças de mobiliário urbano, todos a publicidade restante, a partir da entrada em vigor da lei, passará a ser ilegal.


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