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Migração de estrangeiro e do interior cresce
População nascida na Grande São Paulo subiu de 52,7% para 59,9% entre 1988 e 2007, representando 11,7 milhões de pessoas
Segundo pesquisa, pela primeira vez, nordestinos deixam de ser mais da metade dos migrantes na região metropolitana de SP
RICARDO WESTIN
DA REPORTAGEM LOCAL
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
Pela primeira vez nas últimas
décadas, os nordestinos deixaram de representar mais da
metade dos forasteiros recém-chegados a São Paulo ou a alguma das 28 cidades do entorno
para fixar residência.
Entre os períodos de 1988/
1989 e 2006/2007, o número
de migrantes provenientes da
região Nordeste caiu de 59,4%
para 49,1%.
Como resultado, ficou mais
forte a presença relativa dos
migrantes oriundos do interior
do Estado e de outros países.
Esse novo perfil dos migrantes que se mudam para a Grande São Paulo é uma das conclusões de um estudo feito por
Valmir Aranha e Paulo Jannuzzi, pesquisadores da Fundação
Seade (Sistema Estadual de
Análise de Dados).
"São Paulo não é mais tão
atraente para os nordestinos.
E, dos que vêm, muitos ficam
pouco tempo aqui e voltam logo em seguida para seus locais
de origem", diz Valmir Aranha.
O estudo será apresentado
nesta semana em Caxambu
(MG), no 16º Encontro Nacional de Estudos Populacionais.
Em 1988/1989, dos migrantes que haviam fixado residência na Grande São Paulo até
três anos antes, perto de 536
mil eram nordestinos. Em
2006/2007, o Nordeste enviou
pouco mais de 317 mil pessoas.
O menor fluxo de nordestinos influencia todo o cálculo
migratório em São Paulo. Entre
os dois períodos estudados pelo
Seade, o peso dos migrantes de
todas as procedências na população total da região metropolitana caiu de 47,3% para 40,1%.
Ou seja, a população "nativa"
subiu de 52,7% para 59,9%.
Atração histórica
O fluxo de migrantes de outros Estados para São Paulo teve seu primeiro período de intensidade no início do século
passado. Na década de 30, o governo criou uma política para
atrair pessoas de fora do Estado
para que houvesse mão-de-obra para as lavouras.
Nos anos 50 e 60, com a industrialização do Brasil e o estabelecimento de São Paulo como pólo nacional nesse setor, a
atração de migrantes ganhou
mais força, dessa vez para a zona urbana. Os anos 70 foram o
auge desse processo, com o
chamado milagre econômico.
Somavam-se a isso a pobreza
e as secas do Nordeste, que empurravam as pessoas para fora
dessa região.
A situação começou a mudar
nos anos 80, que ficaram conhecidos como a década perdida. "O Brasil entrou em recessão depois da crise mundial do
petróleo. Quem mais sofreu foi
o centro industrial do país. Como conseqüência, os nordestinos perderam o encanto, deixaram de ver São Paulo como Meca", afirma Herton Ellery Araújo, técnico em pesquisa e planejamento do Ipea (Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada).
Postos de trabalho foram fechados, os empregos novos exigiam uma qualificação que os
nordestinos não tinham e as linhas de montagem das fábricas
adotaram tecnologias que dispensaram funcionários.
"Foi quando começaram as
migrações de retorno", diz
Parry Scott, antropólogo da
UFPE (Universidade Federal
de Pernambuco). "Eram retornos desgastados, com uma certa desilusão."
Por outro lado, a situação no
Nordeste melhorou. A Constituição de 88 criou a aposentadoria rural, o que permitiu que
muita gente continuasse com
suas vidas na roça. Os Estados
nordestinos se industrializaram. O turismo se profissionalizou. E, mais recentemente, os
programas de transferência de
renda do governo federal levaram dinheiro às famílias das regiões mais pobres. Isso tudo foi
motivo para que as pessoas
continuassem lá.
Segundo os Censos do IBGE
(Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a Grande
São Paulo teve um saldo migratório positivo de 203 mil pessoas entre 1960 e 1970. Entre
1980 e 1991, pela primeira vez, o
saldo foi negativo -mais pessoas saíram do que chegaram-,
totalizando uma perda de 26
mil pessoas. Entre 1991 e 2000,
o saldo migratório voltou a ser
positivo, de 24 mil pessoas.
"São Paulo continuará
atraindo gente -nordestinos
em especial-, mas nunca mais
com a força daquela época", diz
o demógrafo José Marcos Cunha, da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
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