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Ataque a morador de rua fica sem solução
Cinco dos principais ataques no país não resultaram em prisão ou condenação; em geral, crimes são feitos com armas de fogo
No caso da praça da Sé, Justiça determinou o retorno dos autos à polícia, por considerar as provas "singelas suposições"
THIAGO REIS
CÍNTIA ACAYABA
DA AGÊNCIA FOLHA
Ataques a moradores de rua
no país costumam seguir um
mesmo padrão. São feitos de
madrugada, sem a possibilidade de defesa e de identificação
dos agressores e são, em geral,
com armas de fogo. Além dessas características, todos são
marcados pela impunidade.
Levantamento feito pela Folha mostra que cinco dos principais ataques dos últimos cinco anos não tiveram um desfecho: ninguém está preso nem
foi condenado pelos crimes.
Além do caso de 2004, na
praça da Sé (centro de SP),
quando sete moradores de rua
foram mortos a golpes na cabeça, os outros quatro crimes citados apresentam mortos e feridos a tiros, o que exclui a possibilidade de briga entre eles.
Neste ano, uma chacina
ocorrida em Vitória, no Espírito Santo, foi a que mais chamou
a atenção pela precisão do tiros
dados com uma pistola 380
mm. Três moradores de rua foram mortos.
Uma semana antes, comerciantes da região pediram à
prefeitura que os três e outros
sobreviventes do crime fossem
retirados do local porque estavam "fazendo muita sujeira". A
polícia credita a ação a um "especialista", mas até hoje não sabe quem ele é.
Outros dois casos ocorridos
em São Paulo ficaram sem solução. Em abril de 2006, dois homens em uma moto, vestidos
de preto e com capacetes, atiraram com pistolas automáticas
de uso exclusivo de forças de
segurança do Estado contra
três moradores de rua, sob o
viaduto Guadalajara, no Belém
(zona leste). Um morreu.
De acordo com o DHPP (Departamento de Homicídios e
Proteção à Pessoa), os sobreviventes chegaram a ser ouvidos
ainda no hospital, mas não
identificaram os agressores. A
briga por um ponto de tráfico
de drogas foi o motivo apontado. Mas o inquérito foi concluído sem chegar à autoria dos disparos. O processo foi arquivado
sete meses depois na Justiça.
Um caso de 2005 teve o mesmo destino. Naquele ano, quatro pessoas ficaram feridas e
uma foi assassinada a tiros sob
o viaduto Arapuã, no Jabaquara (zona sul). Mais de 15 testemunhas foram ouvidas. A autoria foi dada como desconhecida
na conclusão do inquérito.
Uma briga devido a furtos ou
ao tráfico de drogas na região
foi registrada como motivação,
mas negada por um dos sobreviventes. Segundo o Ministério
Público, a própria dificuldade
em encontrar os moradores de
rua durante as investigações
causou o arquivamento do processo, há seis meses.
Golpes na cabeça
No caso mais emblemático já
ocorrido, sete moradores de
rua foram mortos e oito ficaram feridos, em 2004, na praça
da Sé. Em vez de tiros, golpes
certeiros na cabeça.
PMs e um segurança particular chegaram ser presos e indiciados. A denúncia foi feita pelo
Ministério Público, mas rejeitada pela Justiça, que determinou "o retorno oportuno dos
autos à autoridade policial, para prosseguimento das investigações", por considerar as provas "singelas suposições".
Mais de cem testemunhas foram ouvidas. O processo está
parado há dois anos. Segundo a
Pastoral de Rua, há um recurso
no STJ (Superior Tribunal de
Justiça) ainda sob análise.
No ano passado, um PM foi
condenado por matar uma testemunha do caso, mas o crime
em si continua sem solução.
No caso mais recente, neste
mês, quatro moradores de rua
foram baleados na Lapa (zona
oeste) enquanto dormiam sob a
marquise de uma agência bancária. Um morreu.
Para a polícia, uma briga em
frente a um bar no dia anterior
foi o estopim do caso.
"Teve uma discussão com
um traficante, que depois foi
buscar a arma em casa para
tentar matá-los. Mas é um caso
isolado", afirma o delegado Rodolfo Chiarelli Jr., do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa. O único suspeito
do crime está foragido.
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