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Doença não está ligada a estresse, dizem estudos
FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL
O estresse -mal ao qual já foi
atribuído um rosário de doenças- não leva ao câncer. Pelo
menos é o que mostram os estudos realizados até agora.
Um dos principais trabalhos sobre o assunto, do dinamarquês
Christoffer Johansen, avaliou pessoas que perderam os filhos (considerada uma das situações mais
estressantes que podem acontecer durante a vida de uma pessoa)
e não encontrou nenhuma evidência de que o câncer tenha alguma relação com a dor da perda.
Nenhuma pesquisa até hoje
comprovou que o estresse ou outros motivos, como depressão, fatores psicológicos ou de personalidade, provoquem a doença.
No trabalho de Johansen, já publicado em revista científica, foram avaliadas mais de 40 mil pessoas. "A mensagem disso é "não
culpe você mesmo'", afirmou o
pesquisador à Folha. Presidente
da Sociedade Internacional de
Psiconcologia, ele participa em
São Paulo do 8º Congresso Brasileiro de Psiconcologia, que teve
início ontem em São Paulo.
Pela primeira vez o congresso é
realizado com o Congresso Brasileiro de Cancerologia, o que demonstra a integração das áreas.
"O problema é que as pessoas
pensam que, se tiverem estresse,
desenvolverão câncer. Woody
Allen [diretor e ator norte-americano] disse que deprimidos desenvolvem tumores. E é isso que
as pessoas pensam", diz William
Breitbart, que dirige o serviço de
psiquiatria do Memorial Sloan-Kettering Center de Nova York,
um dos principais centros de oncologia do mundo.
Segundo Breitbart, no entanto,
quando a doença está instalada, o
sofrimento psíquico pode sim
prejudicar a evolução do paciente. "Há muitos estudos que sugerem, por exemplo, que se você é
mais otimista, pode ter um prognóstico melhor. Não é claro ainda.
Mas parece haver um pequeno
impacto. Obviamente há um impacto na qualidade de vida."
A depressão, por exemplo, interfere na adesão ao tratamento, o
que pode explicar porque tem repercussão no câncer, diz.
Para Christoffer Johansen, com
a melhora do prognóstico dos
principais tipos de câncer, o suporte social e psicológico tornou-se obrigatório. "Se você está numa
cama e mal respira, talvez não ligue para problemas psicológicos.
Mas se você está vivendo, adaptado, continuando com suas atividades, torna-se importante."
No Brasil, uma portaria publicada pelo Ministério da Saúde
obriga que todo centro oncológico tenha um psicólogo hospitalar.
"Foi um passo importante, mas é
preciso que o profissional tenha
conhecimento sobre a doença",
afirma Vicente A. de Carvalho,
presidente da Sociedade Brasileira de Psiconcologia.
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