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São Paulo, sexta-feira, 28 de novembro de 2003

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Doença não está ligada a estresse, dizem estudos

FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

O estresse -mal ao qual já foi atribuído um rosário de doenças- não leva ao câncer. Pelo menos é o que mostram os estudos realizados até agora.
Um dos principais trabalhos sobre o assunto, do dinamarquês Christoffer Johansen, avaliou pessoas que perderam os filhos (considerada uma das situações mais estressantes que podem acontecer durante a vida de uma pessoa) e não encontrou nenhuma evidência de que o câncer tenha alguma relação com a dor da perda.
Nenhuma pesquisa até hoje comprovou que o estresse ou outros motivos, como depressão, fatores psicológicos ou de personalidade, provoquem a doença.
No trabalho de Johansen, já publicado em revista científica, foram avaliadas mais de 40 mil pessoas. "A mensagem disso é "não culpe você mesmo'", afirmou o pesquisador à Folha. Presidente da Sociedade Internacional de Psiconcologia, ele participa em São Paulo do 8º Congresso Brasileiro de Psiconcologia, que teve início ontem em São Paulo.
Pela primeira vez o congresso é realizado com o Congresso Brasileiro de Cancerologia, o que demonstra a integração das áreas.
"O problema é que as pessoas pensam que, se tiverem estresse, desenvolverão câncer. Woody Allen [diretor e ator norte-americano] disse que deprimidos desenvolvem tumores. E é isso que as pessoas pensam", diz William Breitbart, que dirige o serviço de psiquiatria do Memorial Sloan-Kettering Center de Nova York, um dos principais centros de oncologia do mundo.
Segundo Breitbart, no entanto, quando a doença está instalada, o sofrimento psíquico pode sim prejudicar a evolução do paciente. "Há muitos estudos que sugerem, por exemplo, que se você é mais otimista, pode ter um prognóstico melhor. Não é claro ainda. Mas parece haver um pequeno impacto. Obviamente há um impacto na qualidade de vida."
A depressão, por exemplo, interfere na adesão ao tratamento, o que pode explicar porque tem repercussão no câncer, diz.
Para Christoffer Johansen, com a melhora do prognóstico dos principais tipos de câncer, o suporte social e psicológico tornou-se obrigatório. "Se você está numa cama e mal respira, talvez não ligue para problemas psicológicos. Mas se você está vivendo, adaptado, continuando com suas atividades, torna-se importante."
No Brasil, uma portaria publicada pelo Ministério da Saúde obriga que todo centro oncológico tenha um psicólogo hospitalar. "Foi um passo importante, mas é preciso que o profissional tenha conhecimento sobre a doença", afirma Vicente A. de Carvalho, presidente da Sociedade Brasileira de Psiconcologia.


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