São Paulo, sexta-feira, 29 de abril de 2005

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TRANSPORTE

Empresários de ônibus querem restringir reajuste salarial e mudanças em dissídio para evitar pagamento de hora extra

Proposta patronal é "afronta", diz sindicato

DA REPORTAGEM LOCAL

Os empresários de ônibus apresentaram no final da tarde de ontem uma proposta vista pelo sindicato dos condutores como uma "afronta", nas palavras de Isao Hosogi, presidente da entidade.
Além da oferta de reajuste salarial se restringir a 5,3%, os patrões exigem mudanças no dissídio coletivo para flexibilizar a jornada de trabalho de maneira a evitar os pagamentos de hora extra.
Na prática, querem que os motoristas e cobradores que prorrogarem as horas de trabalho em um dia, em vez de receberem hora extra com acréscimo de 50%, compensem trabalhando menos tempo no restante do mês.
A hora extra só seria paga se a totalidade trabalhada ultrapassasse 210 horas. A jornada da categoria é de sete horas e dez minutos, com meia hora de intervalo para refeição. "Seria como aceitar a escravidão", afirmou José Ilton Marçal Pereira, diretor do sindicato, para quem os empresários querem que os condutores trabalhem de forma picada, nos horários de pico da manhã e da tarde de um mesmo dia, sendo liberados na hora do almoço.
Tanto Hosogi como Pereira dizem que a proposta deve ser rejeitada na assembléia de hoje à tarde e que, sem interferência da administração José Serra, a tendência é que a greve de 24 horas seja aprovada para a próxima semana.
O SP Urbanuss (sindicato patronal) se limitou a divulgar nota detalhando sua proposta e condicionando a manutenção dela à aceitação na íntegra. A oferta das viações inclui ainda a retirada de benefícios dados hoje, como os incentivos à assiduidade (quem fica sem faltar a cada três meses ganha um dia de abono).
Quando a gestão José Serra elevou a tarifa de R$ 1,70 para R$ 2, também concedeu reajuste na remuneração das viações próximo de 14%. Em seguida, ainda fez um reequilíbrio econômico-financeiro dos contratos. Na época, vereadores petistas criticaram a decisão do tucano de conceder a elevação antes do dissídio dos condutores.
O resultado é que, somente no mês de março de 2005, os pagamentos às empresas atingiram R$ 177,3 milhões, alta de 14,6% em relação a março de 2004 e de 21,7% em relação a novembro.
Embora estejam transportando mais passageiros, devido ao benefício do bilhete único, os custos não saltaram na mesma proporção, já que a frota se manteve estável de um ano para cá.

"Pessoa querida"
A participação direta de Edivaldo Santiago no sindicato é exaltada como um benefício à categoria pelos atuais diretores.
"Ele tem uma história de luta aqui e está me assessorando politicamente como companheiro, como amigo, sem remuneração", afirma Isao Hosogi, presidente do sindicato desde agosto passado e próximo de Santiago desde 1979.
Hosogi, conhecido como Jorginho e que também foi preso em 2003, está na presidência desde agosto de 2004 mesmo sem ter sido eleito ao cargo no ano anterior. Luiz Gonçalves, que era militante do PT e ocupava a função, foi retirado de comum acordo pela diretoria, da qual Hosogi fazia parte.
"O Edivaldo é um ativista para ajudar a categoria. Ele está presente porque é uma pessoa muito querida por nós", diz Gonçalves.
A Folha tentou conversar com Santiago, mas, de acordo com o seu advogado, ele não quer falar. Ele já foi acusado também por homicídio.


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