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TRANSPORTE
Empresários de ônibus querem restringir reajuste salarial e mudanças em dissídio para evitar pagamento de hora extra
Proposta patronal é "afronta", diz sindicato
DA REPORTAGEM LOCAL
Os empresários de ônibus apresentaram no final da tarde de ontem uma proposta vista pelo sindicato dos condutores como uma
"afronta", nas palavras de Isao
Hosogi, presidente da entidade.
Além da oferta de reajuste salarial se restringir a 5,3%, os patrões
exigem mudanças no dissídio coletivo para flexibilizar a jornada
de trabalho de maneira a evitar os
pagamentos de hora extra.
Na prática, querem que os motoristas e cobradores que prorrogarem as horas de trabalho em
um dia, em vez de receberem hora
extra com acréscimo de 50%,
compensem trabalhando menos
tempo no restante do mês.
A hora extra só seria paga se a
totalidade trabalhada ultrapassasse 210 horas. A jornada da categoria é de sete horas e dez minutos,
com meia hora de intervalo para
refeição. "Seria como aceitar a escravidão", afirmou José Ilton
Marçal Pereira, diretor do sindicato, para quem os empresários
querem que os condutores trabalhem de forma picada, nos horários de pico da manhã e da tarde
de um mesmo dia, sendo liberados na hora do almoço.
Tanto Hosogi como Pereira dizem que a proposta deve ser rejeitada na assembléia de hoje à tarde
e que, sem interferência da administração José Serra, a tendência é
que a greve de 24 horas seja aprovada para a próxima semana.
O SP Urbanuss (sindicato patronal) se limitou a divulgar nota
detalhando sua proposta e condicionando a manutenção dela à
aceitação na íntegra. A oferta das
viações inclui ainda a retirada de
benefícios dados hoje, como os
incentivos à assiduidade (quem
fica sem faltar a cada três meses
ganha um dia de abono).
Quando a gestão José Serra elevou a tarifa de R$ 1,70 para R$ 2,
também concedeu reajuste na remuneração das viações próximo
de 14%. Em seguida, ainda fez um
reequilíbrio econômico-financeiro dos contratos. Na época, vereadores petistas criticaram a decisão
do tucano de conceder a elevação
antes do dissídio dos condutores.
O resultado é que, somente no
mês de março de 2005, os pagamentos às empresas atingiram R$
177,3 milhões, alta de 14,6% em
relação a março de 2004 e de
21,7% em relação a novembro.
Embora estejam transportando
mais passageiros, devido ao benefício do bilhete único, os custos
não saltaram na mesma proporção, já que a frota se manteve estável de um ano para cá.
"Pessoa querida"
A participação direta de Edivaldo Santiago no sindicato é exaltada como um benefício à categoria
pelos atuais diretores.
"Ele tem uma história de luta
aqui e está me assessorando politicamente como companheiro,
como amigo, sem remuneração",
afirma Isao Hosogi, presidente do
sindicato desde agosto passado e
próximo de Santiago desde 1979.
Hosogi, conhecido como Jorginho e que também foi preso em
2003, está na presidência desde
agosto de 2004 mesmo sem ter sido eleito ao cargo no ano anterior.
Luiz Gonçalves, que era militante
do PT e ocupava a função, foi retirado de comum acordo pela diretoria, da qual Hosogi fazia parte.
"O Edivaldo é um ativista para
ajudar a categoria. Ele está presente porque é uma pessoa muito
querida por nós", diz Gonçalves.
A Folha tentou conversar com
Santiago, mas, de acordo com o
seu advogado, ele não quer falar.
Ele já foi acusado também por
homicídio.
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