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Biblioteca Mário de Andrade muda de direção
O advogado Luís Francisco Carvalho Filho decidiu deixar o cargo após mais de 3 anos; "fiz o elefante andar", diz
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
Um ano e meio depois de ter
assumido a direção da Biblioteca Mário de Andrade, em janeiro de 2005, o advogado Luís
Francisco Carvalho Filho imaginava que conseguiria acabar
até o fim de 2008 a reforma do
prédio principal e de um anexo
que passaria a guardar a coleção de jornais e revistas. Amanhã, quando deixa a direção da
segunda maior biblioteca do
país, nenhuma dessas obras estará pronta -a do prédio principal deve ficar pronta em um
ano e a do anexo nem começou.
Carvalho Filho diz, porém,
que não deixa o cargo frustrado: "Gostaria que as coisas tivessem se desenvolvido mais
rapidamente. Pagamos o preço
de ser o primeiro projeto da
prefeitura com financiamento
do BID [Banco Interamericano
de Desenvolvimento], mas o resultado é positivo". Em tom de
blague, resume: "Já cumpri o
meu papel, de fazer o elefante
andar". Ele diz que deixa o cargo para cuidar da vida privada.
O BID emprestou os R$ 15,87
milhões que a reforma deve
consumir e impõe padrões para
liberar a verba com os quais a
administração pública não está
habituada. "Fomos meio cobaia
no projeto do BID com a prefeitura", conta.
Nos três anos e três meses
em que ficou no cargo, Carvalho Filho conduziu a maior reforma no prédio da biblioteca,
inaugurado em 1942, conseguiu um edifício ao lado da sede
para desafogar a torre de 22 andares e deixa para a sua sucessora um orçamento que é praticamente o triplo de quando ele
assumiu -passou de R$ 1,45
milhão em 2005 para R$ 4,35
milhões no início deste ano.
A Mário de Andrade é da Prefeitura de São Paulo. A direção
será assumida pela administradora Bianca Ruiz.
Relação com o público
A reforma do prédio, a partir
de um projeto do escritório Piratininga, é o ponto central da
gestão de Carvalho Filho porque propiciou mudanças em
série. O projeto serve de guia
para o novo conceito da biblioteca, segundo ele: "A relação da
biblioteca com o público vai se
dar no térreo. O resto dos andares será para pesquisadores,
com hora marcada, como acontece em qualquer biblioteca
desse porte no mundo".
A parte visível da reforma está no térreo. O prédio projetado
pelo francês Jacques Pilon
(1905-1962) ganhará duas novas entradas (na av. São Luís e
na praça Dom José Gaspar),
um mezanino -onde o público
terá acesso ao acervo circulante, com capacidade para 60 mil
livros- e sala de internet.
A parte invisível da reforma
levou a biblioteca a esvaziar sete andares, onde estavam guardados jornais e revistas, alocados temporariamente numa
área de 1.000 m2 no Pari (zona
leste). Com esse deslocamento,
a biblioteca conseguiu espaço
para algo que deveria ser rotineiro, mas é uma raridade na
Mário de Andrade: a compra de
novos títulos. No ano passado,
foram comprados 2.077 títulos
e a biblioteca recebeu outros
1.971 como doação.
Desde 1992, na gestão da prefeita Luiza Erundina, a Mário
de Andrade não fazia compras
nessa escala. Foi a secretária de
Cultura de Erundina, Marilena
Chaui, que começou a mudar a
biblioteca. "Eu já disse para a
Marilena: "O que estou fazendo
é acabar a sua obra"."
Eram de 1992 as caixas fechadas que Carvalho Filho encontrou sobre uma estante.
Elas continham 1.800 títulos,
em inglês e francês, que haviam sido comprados por
Chaui e permaneciam intactas
quase 15 anos depois.
Não foi a única surpresa negativa que ele enfrentou: em
2006, obras raras da biblioteca
foram furtadas. Parte delas, depois, foi recuperada.
Advogado criminalista de renome, sócio do ex-ministro da
Justiça José Carlos Dias, Carvalho Filho conseguiu que a biblioteca adquirisse autonomia
orçamentária ao ser transformada em departamento. Antes,
para comprar uma lâmpada,
ele precisava pedir ao departamento de bibliotecas.
Essa autonomia permitirá,
segundo ele, redesenhar o quadro funcional da Mário de Andrade. Carvalho Filho diz que o
processo não acaba com as reformas dos prédios. "A recuperação da biblioteca é um processo de dez anos, do qual já
cumprimos três."
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