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Justiça barra obra ao lado de ruína histórica
Empreendimento prevê construção de uma torre e de uma praça ao redor de sítio arqueológico no Itaim Bibi, na zona oeste de SP
Segundo Ministério Público, escavações da obra já "destruíram" terreno onde ainda há pedaços de louça, vidro e cerâmica antigos
RICARDO SANGIOVANNI
DA REPORTAGEM LOCAL
A Justiça Federal determinou a paralisação da construção de um megaempreendimento imobiliário localizado
num bairro nobre da zona oeste
de São Paulo, o Itaim Bibi, por
suspeita de danos ao patrimônio arqueológico da região.
Protegido por lei federal, o
terreno onde foi instalado o
canteiro de obras destinado a
levantar uma torre comercial e
construir uma praça faz parte
do entorno do sítio Itaim, uma
construção do século 19, hoje
em ruínas, que foi tombada pelos patrimônios históricos do
Estado e do município.
A liminar (decisão provisória) que determinou a paralisação das obras foi concedida na
quinta-feira passada pela 12ª
Vara Federal Cível de São Paulo, em resposta a uma ação movida pelo Ministério Público.
Representantes da construtora Brascan, principal responsável pelo empreendimento,
afirmaram que o projeto está
"completamente legal" e que
desconhecem a decisão.
A empresa nega que a parte já
executada das obras tenha prejudicado o patrimônio arqueológico do entorno do sítio
Itaim. "Há um acompanhamento quinzenal de todos os
órgãos [da prefeitura e de preservação do patrimônio]", afirmou o diretor de incorporação
da construtora, José de Albuquerque (leia texto ao lado).
A obra ainda está em sua fase
inicial, de escavações para fundações. O projeto original previa a construção no local de um
shopping center e de duas torres com salas comerciais, mas
os empreendedores decidiram
mudá-lo no meio do caminho:
planejam construir só uma torre empresarial e uma praça.
Destruição
Em sua decisão liminar, a juíza Elizabeth Leão determinou
que a obra não prossiga até que
a construtora apresente perícia
identificando os eventuais danos ao patrimônio arqueológico já causados no local.
A juíza se baseou em relatório de uma vistoria dos procuradores do Ministério Público
realizada no dia 15 deste mês.
O trabalho afirma que há
uma "completa destruição do
terreno em virtude das escavações de 20 metros de profundidade, restando preservada parcialmente a área do entorno da
casa tombada, com vestígios arqueológicos visíveis".
Na vistoria, o Ministério Público fotografou objetos que teriam importância arqueológica
-como pedaços de louça, vidro
e cerâmica- encontrados no
meio do terreno em obras.
Segundo a Brascan, a área
tem 19 mil metros quadrados, o
equivalente a 2,4 campos do estádio do Morumbi. Isso inclui
os 2.000 metros quadrados
tombados, onde fica a sede do
sítio Itaim. A obra começou no
ano passado e inclui no projeto
a preservação da área tombada.
O terreno custou R$ 700 milhões aos empreendedores.
Segundo a decisão, a Brascan
e a Maragogipe (construtora
parceira) têm seis meses para
apresentar o estudo ao Iphan
(órgão federal do patrimônio),
que deverá autorizar ou não a
retomada do empreendimento.
Caso as construtoras não
cumpram a determinação judicial, estarão sujeitas a pagar
multa diária de R$ 50 mil.
A ação afirma que a construtora começou a obra sem autorização do Iphan -necessária
pelo fato de o terreno ser de
preservação arqueológica- e
que não atendeu à solicitação
de paralisação da terraplenagem feita pelo órgão.
Origem do bairro
Hoje em ruínas, o sítio Itaim
é uma construção de taipa de
pilão (barro socado em fôrmas
de madeira) e foi tombada em
1982 pelo Condephaat (órgão
estadual do patrimônio). A
construção existe ao menos
desde 1846, diz o órgão.
Em 1896, o general Couto de
Magalhães comprou o sítio. Em
1915, seu sobrinho Leopoldo
-conhecido por "Bibi"- o loteou. Na década de 1920, o local
passou a sediar o sanatório Bela
Vista, até 1980. Depois, o terreno ficou vazio. Até 2008, era
um estacionamento.
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