São Paulo, sábado, 29 de maio de 2004

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SAÚDE

Leptospirose e dengue também são cogitadas; professores e alunos de cidade-satélite protestam contra falta de informações

Hantavírus é provável causa de mortes no DF

Sérgio Lima/Folha Imagem
Escola em São Sebastião é dedetizada após doença ainda não identificada ter matado 4 na região


ANA FLOR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A Secretaria de Saúde do Distrito Federal reduziu ontem para três doenças o número de causas prováveis para a morte de quatro pessoas desde o último sábado na região. Seis pessoas permaneciam ainda hospitalizadas.
A causa mais provável é a de um surto de hantavirose, doença transmitida pelas fezes, urina e saliva de roedores. A secretaria estuda ainda a possibilidade de se tratar de dengue ou leptospirose.
"Não descartamos a hipótese de ser uma infeliz coincidência com casos das três doenças", disse o secretário de Saúde do Distrito Federal, Arnaldo Bernardino.
A doença misteriosa matou três pessoas da cidade-satélite de São Sebastião e uma de Paranoá. Todas apresentaram sintomas semelhantes: dores de cabeça, febre, dores no corpo e vômito, que evoluíram para problemas pulmonares graves.
O foco dos trabalhos da Vigilância Sanitária se concentra em São Sebastião, cidade em que os 70 mil habitantes vivem um clima de apreensão. Desde o anúncio das primeiras mortes, os postos de saúde estão lotados. Ontem, equipes de saúde foram levadas para as escolas, na tentativa de distribuir o atendimento.
Sintomas de gripe são suficientes para levar as pessoas aos postos. "Meu filho acordou com febre e enjoado. Com tanta notícia ruim, resolvi trazê-lo", disse Maria Aparecida Santos, 32, que teve como diagnóstico para o menino apenas um resfriado.
No final da manhã, professores e alunos das escolas públicas de São Sebastião fizeram um protesto pedindo mais informação. Grande parte dos manifestantes usava máscaras cirúrgicas.

Máscaras
A hantavirose pode ser transmitida por água, alimento ou pelas vias respiratórias, caso haja poeira contaminada no ar. Por isso os garis locais estão usando máscaras. "Está todo mundo assustado, precisamos saber como nos proteger", disse a professora Elizabeth Piantino Giongo.
Os estudantes Marcelo Almeida de Oliveira, 17, e Tomázio Cardoso dos Santos, 11, tinham ordens expressas dos pais para sair na rua apenas com a máscara no rosto. "Cancelamos até o futebol do fim da tarde", disseram.
Segundo o secretário de Saúde, a população está sendo informada de tudo o que se tem conhecimento. "O que as pessoas querem é que a gente diga qual é a doença. A gente também quer isso, mas não podemos ser levianos", afirmou Arnaldo Bernardino.
Os exames estão sendo feitos no Instituto Evandro Chagas, no Pará, no Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo, e no Laboratório Central do Distrito Federal. Parte dos resultados deve ser conhecida amanhã. Um diagnóstico final deve sair até terça-feira.
Caso se confirme a hipótese de hantavirose, será a primeira ocorrência da doença no Distrito Federal. No país, os primeiros casos foram registrados há 13 anos.
De acordo com o secretário da Saúde, é incomum ocorrerem quatro casos da doença de uma única vez. Por isso, ele não descarta a possibilidade de se tratar de casos concomitantes de dengue (transmitida por picada de mosquito) ou leptospirose (causada pela urina de ratos).

Cisterna
Por precaução, a Caesb (Companhia de Saneamento de Brasília) tenta aterrar as cisternas utilizadas por pelo menos 10% da população. Mesmo com a possibilidade de a doença ser causada por água contaminada, os donos dos poços mostram-se relutantes.
O Ministério da Saúde também está trabalhando nas investigações. Segundo o coordenador de Doenças Transmissíveis, Eduardo Hage, a rápida evolução da doença tem atrapalhado as investigações. Em todos os casos, as vítimas tiveram os primeiros sintomas de dois a seis dias antes de morrerem.
Além disso, elas tiveram pouco tempo de observação clínica no hospital, morrendo menos de 24 horas depois de internadas. "Sabemos que a doença é infecciosa aguda, mas não se transmite de pessoa para pessoa", disse.
Para Hage, as investigações parecem contradizer as hipóteses de contaminação respiratória, por meio de insetos ou por roedores. "É uma situação incomum", disse. Nos últimos três anos, o Ministério da Saúde atuou em 60 surtos no país. Apenas um não teve descoberta a causa.
Os trabalhos na região de São Sebastião continuarão durante o final de semana. Na segunda-feira, mais 60 agentes de saúde devem ser deslocados para a região, juntando-se aos 90 em campo.


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