São Paulo, domingo, 29 de maio de 2005

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Gentileza entre dois homens levanta suspeita

DA REVISTA

A ampla visibilidade do universo homossexual tem um lado bom para os gays -que supostamente lucram politicamente com a passeata- mas acaba levando também a uma espécie de patrulha social maior, que faz sobrar também para os héteros. Sendo assim, gestos de gentileza entre dois homens e certos programas a dois tendem a levantar todo tipo de suspeita. A maior parte dos heterossexuais entrevistados nesta reportagem considera estranho, por exemplo, ver dois homens sozinhos no cinema.
"Você acha que eu iria assistir a "Kill Bill" com ele?", pergunta o engenheiro Leonardo Wanderley, 34, casado, apontando para o amigo economista Tércio Savioli, 31. Os dois estão com mais dois rapazes na mesa de um bar eminentemente heterossexual na Vila Madalena.
Ao cinema não, mas ao jogo de futebol, sim. "Na vitória do Corinthians, a gente se abraça pra cacete, só falta fazer amor", diz Tércio.
Sobra testosterona no bate-bola, mas só até a hora de ir dormir. Wanderley conta que já está com tudo certo para assistir à Copa do Mundo na Alemanha com um amigo, mas faz questão de dizer que vão ficar em quartos separados -mesmo pagando mais por isso.
Na hora da foto, os três fazem a reportagem prometer: "A gente só faz se você colocar na legenda: Leonardo, Tércio e Décio, machos e héteros."
"É engraçado porque as pessoas acham que podem controlar com atitudes seus impulsos sexuais. Freud já dizia em 1905 que a sexualidade é fundamentalmente perversa polimorfa. Ou seja, não só se desvia daquilo que se supunha natural, como pode ter várias formas", diz a psicanalista Adriana Italo.
Duas mesas depois, o designer digital Gilberto Martins, 24, que está sentado com três amigos tomando chope, concorda com a "teoria do cinema" e cita outro programa que dois homens não podem fazer em hipótese nenhuma sem levantar suspeitas: abertura de exposição de arte.
Martins diz que até foi a uma, acompanhado de um amigo, mas "era de mulher pelada": "Foi na Faap. Tinha uma puta foto da Cicarelli maravilhosa", lembra.
Um dos amigos que dividem a mesa com Martins é o profissional de marketing Alberto Uehara, 25, que trabalha com moda, fez luzes no cabelo e usa camiseta justa. "Quando eu o conheci, desconfiava dele", se abre Martins.
"Ah é? Dessa eu não sabia", reage Uehara.

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