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Gentileza entre dois homens levanta suspeita
DA REVISTA
A ampla visibilidade do
universo homossexual tem
um lado bom para os gays
-que supostamente lucram
politicamente com a passeata- mas acaba levando
também a uma espécie de
patrulha social maior, que
faz sobrar também para os
héteros. Sendo assim, gestos
de gentileza entre dois homens e certos programas a
dois tendem a levantar todo
tipo de suspeita. A maior
parte dos heterossexuais entrevistados nesta reportagem considera estranho, por
exemplo, ver dois homens
sozinhos no cinema.
"Você acha que eu iria assistir a "Kill Bill" com ele?",
pergunta o engenheiro Leonardo Wanderley, 34, casado, apontando para o amigo
economista Tércio Savioli,
31. Os dois estão com mais
dois rapazes na mesa de um
bar eminentemente heterossexual na Vila Madalena.
Ao cinema não, mas ao jogo de futebol, sim. "Na vitória do Corinthians, a gente se
abraça pra cacete, só falta fazer amor", diz Tércio.
Sobra testosterona no bate-bola, mas só até a hora de
ir dormir. Wanderley conta
que já está com tudo certo
para assistir à Copa do Mundo na Alemanha com um
amigo, mas faz questão de
dizer que vão ficar em quartos separados -mesmo pagando mais por isso.
Na hora da foto, os três fazem a reportagem prometer:
"A gente só faz se você colocar na legenda: Leonardo,
Tércio e Décio, machos e héteros."
"É engraçado porque as
pessoas acham que podem
controlar com atitudes seus
impulsos sexuais. Freud já
dizia em 1905 que a sexualidade é fundamentalmente
perversa polimorfa. Ou seja,
não só se desvia daquilo que
se supunha natural, como
pode ter várias formas", diz
a psicanalista Adriana Italo.
Duas mesas depois, o designer digital Gilberto Martins, 24, que está sentado
com três amigos tomando
chope, concorda com a "teoria do cinema" e cita outro
programa que dois homens
não podem fazer em hipótese nenhuma sem levantar
suspeitas: abertura de exposição de arte.
Martins diz que até foi a
uma, acompanhado de um
amigo, mas "era de mulher
pelada": "Foi na Faap. Tinha
uma puta foto da Cicarelli
maravilhosa", lembra.
Um dos amigos que dividem a mesa com Martins é o
profissional de marketing
Alberto Uehara, 25, que trabalha com moda, fez luzes
no cabelo e usa camiseta justa. "Quando eu o conheci,
desconfiava dele", se abre
Martins.
"Ah é? Dessa eu não sabia", reage Uehara.
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