São Paulo, sábado, 29 de julho de 2006

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Maria-fumaça de 1867 volta hoje aos trilhos da Grande SP

Locomotiva é a 3ª mais antiga do Brasil e será a mais velha a circular; passeio em Paranapiacaba terá, ainda, vagão de 1914

Trem irá percorrer trecho de 1 km, em 20 minutos, a 5 km/h; passagem para viagem custará R$ 5, mais R$ 2 pela entrada no museu


RICARDO GALLO
DA REPORTAGEM LOCAL

O maquinista José Ferreira, 59, o Caçapa, está ansioso: hoje, sobre os trilhos da vila de Paranapiacaba, é dia de a "número 10" voltar a andar. É assim que os mais aficionados conhecem a inglesa Sharp-Stewart, ano de fabricação 1867, que, em funcionamento, será a mais velha locomotiva no país a circular com regularidade.
"É muito importante, um prazer", diz Caçapa, funcionário da ferrovia por 30 anos, aposentado há 12, apelidado por sua habilidade no bilhar e, agora, maquinista voluntário.
A maria-fumaça, com o brasão da antiga São Paulo Railway, iniciará a exploração turística, aos finais de semana e feriados, em um trecho de 1 km dentro de Paranapiacaba, vila formada com a construção de uma ligação ferroviária entre São Paulo e Santos (85 km de SP), em 1860.
Ela puxará um carro de passageiros de 1914, feito em madeira, com capacidade para 56 pessoas. Freqüentado à época por cafeicultores que faziam o trajeto entre Santos e Jundiaí (60 km de SP), o vagão tem lustres de bronze, bancos estofados e apoios de braço em madeira de pinho-de-riga. Os passageiros serão recebidos por monitores em trajes da época -quepes e gravata borboleta.
O trajeto será feito a 5 km/h e deverá levar 20 minutos. Serão de oito a dez viagens por dia.

Velha senhora
A "número 10" é a terceira locomotiva mais antiga do país, atrás apenas da Baronesa, de 1854, e da "número 15", feita oito anos depois. Ambas estão em exposição nos museus de Engenho de Dentro, no Rio, e Paranapiacaba, respectivamente.
Será a volta de um trem a Paranapiacaba depois de 4 anos, desde que a CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) decidiu não explorar mais o trecho. A última estação da rede, a partir de então, passou a ser Rio Grande da Serra (37 km de SP).

Tormento
Foi um tormento fazer o trem voltar para Paranapiacaba, segundo conta o subprefeito local, João Ricardo Caetano. A intenção da prefeitura de Santo André (Grande SP), responsável pela vila, era reativar o trecho até Rio Grande, 22 quilômetros, entre ida e volta. A prioridade sobre o uso da linha, no entanto, é da MRS Logística, empresa que detém a concessão para o transporte de cargas na região. Foi então que a alternativa de explorar inicialmente um pequeno trecho apareceu.
"As pessoas vêm aqui para ver a vila ferroviária. Não fazia sentido não oferecer um passeio de trem", afirma Caetano, neto de ferroviários. A vila, um distrito de Santo André, recebe de 2.000 a 4.000 visitantes aos finais de semana.
A exploração do trem ocorrerá pela ABPF (Associação Brasileira de Preservação Ferroviária), uma ONG criada em 1977. A passagem custará R$ 5, mais R$ 2 pelo ingresso no museu ferroviário.
A Sharp-Stewart número 10 foi doada à entidade por um frigorífico, em 1978. Entre 1998 e 2001, foi submetida a restauração. Para operar no trecho de 1 km em Paranapiacaba, recebeu investimento de R$ 45 mil, para ajustes nos freios e sistema hidráulico.
Ontem, Caçapa participava dos últimos ajustes. Era preciso consertar um vazamento de óleo para que a maria-fumaça não surpreendesse no dia da estréia. Maquinista do antigo Trem de Prata, que fazia o trajeto São Paulo-Rio, Caçapa vai dormir num vagão-dormitório dentro da vila. Diz que vale a pena, pelo contato com os turistas. "É prazeroso, né?"


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