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Maria-fumaça de 1867 volta hoje aos trilhos da Grande SP
Locomotiva é a 3ª mais antiga do Brasil e será a mais velha a circular; passeio em Paranapiacaba terá, ainda, vagão de 1914
Trem irá percorrer trecho de 1 km, em 20 minutos, a 5 km/h; passagem para viagem custará R$ 5, mais R$ 2 pela entrada no museu
RICARDO GALLO
DA REPORTAGEM LOCAL
O maquinista José Ferreira,
59, o Caçapa, está ansioso: hoje,
sobre os trilhos da vila de Paranapiacaba, é dia de a "número
10" voltar a andar. É assim que
os mais aficionados conhecem
a inglesa Sharp-Stewart, ano de
fabricação 1867, que, em funcionamento, será a mais velha
locomotiva no país a circular
com regularidade.
"É muito importante, um
prazer", diz Caçapa, funcionário da ferrovia por 30 anos, aposentado há 12, apelidado por
sua habilidade no bilhar e, agora, maquinista voluntário.
A maria-fumaça, com o brasão da antiga São Paulo Railway, iniciará a exploração turística, aos finais de semana e
feriados, em um trecho de 1 km
dentro de Paranapiacaba, vila
formada com a construção de
uma ligação ferroviária entre
São Paulo e Santos (85 km de
SP), em 1860.
Ela puxará um carro de passageiros de 1914, feito em madeira, com capacidade para 56
pessoas. Freqüentado à época
por cafeicultores que faziam o
trajeto entre Santos e Jundiaí
(60 km de SP), o vagão tem lustres de bronze, bancos estofados e apoios de braço em madeira de pinho-de-riga. Os passageiros serão recebidos por
monitores em trajes da época
-quepes e gravata borboleta.
O trajeto será feito a 5 km/h e
deverá levar 20 minutos. Serão
de oito a dez viagens por dia.
Velha senhora
A "número 10" é a terceira locomotiva mais antiga do país,
atrás apenas da Baronesa, de
1854, e da "número 15", feita oito anos depois. Ambas estão em
exposição nos museus de Engenho de Dentro, no Rio, e Paranapiacaba, respectivamente.
Será a volta de um trem a Paranapiacaba depois de 4 anos,
desde que a CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) decidiu não explorar
mais o trecho. A última estação
da rede, a partir de então, passou a ser Rio Grande da Serra
(37 km de SP).
Tormento
Foi um tormento fazer o
trem voltar para Paranapiacaba, segundo conta o subprefeito
local, João Ricardo Caetano. A
intenção da prefeitura de Santo
André (Grande SP), responsável pela vila, era reativar o trecho até Rio Grande, 22 quilômetros, entre ida e volta. A
prioridade sobre o uso da linha,
no entanto, é da MRS Logística,
empresa que detém a concessão para o transporte de cargas
na região. Foi então que a alternativa de explorar inicialmente
um pequeno trecho apareceu.
"As pessoas vêm aqui para
ver a vila ferroviária. Não fazia
sentido não oferecer um passeio de trem", afirma Caetano,
neto de ferroviários. A vila, um
distrito de Santo André, recebe
de 2.000 a 4.000 visitantes aos
finais de semana.
A exploração do trem ocorrerá pela ABPF (Associação Brasileira de Preservação Ferroviária), uma ONG criada em
1977. A passagem custará R$ 5,
mais R$ 2 pelo ingresso no museu ferroviário.
A Sharp-Stewart número 10
foi doada à entidade por um frigorífico, em 1978. Entre 1998 e
2001, foi submetida a restauração. Para operar no trecho de 1
km em Paranapiacaba, recebeu
investimento de R$ 45 mil, para ajustes nos freios e sistema
hidráulico.
Ontem, Caçapa participava
dos últimos ajustes. Era preciso
consertar um vazamento de
óleo para que a maria-fumaça
não surpreendesse no dia da estréia. Maquinista do antigo
Trem de Prata, que fazia o trajeto São Paulo-Rio, Caçapa vai
dormir num vagão-dormitório
dentro da vila. Diz que vale a
pena, pelo contato com os turistas. "É prazeroso, né?"
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