São Paulo, quarta, 29 de julho de 1998

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Colunista vive seu dia de cão sentada no trole

BARBARA GANCIA
Colunista da Folha


Passei um Sunday bloody Sunday domingo à noite no balcão da Varig de Salvador.
Menos por ter sido vítima de um ganancioso "overbooking", que deixou 40, repito, 40 pessoas sem volta para casa em pleno domingão, e mais por sentar em cima do trole da bagagem e parar para ponderar sobre o zeitgeist, o espírito do nosso tempo, que está começando a me encher os pacovás.
Abro um parêntese para esclarecer que a medrosa aqui ainda não aprendeu a embarcar em uma aeronave sem antes tomar: a) um Frontal, b) uma dose de uísque puro ou c) um martelo de bife na moleira.
Tudo bem, meus pensamentos na contramão podem ter sido originados pelo Frontal. Mas, como a nata da Escola Paulista (alô, dr. Jair!) receita o ansiolítico até para que neurocirurgiões realizem seu trabalho sem maiores afãs, só posso concluir que meu desgosto tenha sido motivado por um caldo bem mais espesso.
Veja só: sentadinha no trole, enquanto a funcionária da Viação Aérea Rio Grandense, dona Maria Helena, tentava apaziguar os passageiros que já vislumbravam a marginal do Tietê na chegada do vôo da segunda de manhã, comecei a me autoflagelar em razão do nome do aeroporto soteropolitano -originalmente batizado como 2 de Julho.
Trata-se de página gloriosa de nosso subnutrido livro de história. O 2 de julho foi o dia em que a Bahia perpetrou sua independência. Mais: foi o dia em que os tapuias botaram a portuguesada para correr.
Pois que se danem esses detalhes! Fez-se necessário, a fim de aplacar a dor do "coroné", trocar o nome do aeroporto para Luís Eduardo Magalhães.
Note que o nome do filho que seria, mas não foi já tinha sido emprestado a adutoras, avenidas e o escambau.
Frontal ou não, esta datilógrafa continuou sua trajetória macambúzia: a Sasha, o que houve com Ronaldinho, as eleições e até o documentário da Madonna, é tudo feito sob medida para engambelar ruminantes como você e eu.
Volto à nossa Vitória de Samotrácea em forma de linha aérea. Queria ver a Varig ser gloriosa no mundo civilizado, onde não tem viagem de primeira classe para brigadeiro, nem existe a proibição de receber vôos charter vindos de fora, que representam competição, sim, mas trazem de volta ao país todas aquelas divisas que o tapuia deixa na Disney.

QUALQUER NOTA

Uncle Bob's Diner
Atenção: o carioca Roberto Peres, que nos anos 70 trabalhou em templos londrinos como o Parsons, o Great American Disaster e o Hard Rock Café, se instalou, com grelha e catchup, no Itaim. Aposto picles como quem gosta de hambúrguer vai babar.
Alô, Eliana!
Estive sábado, em Salvador, na gravação do "H", programa do amigo Luciano Huck. O esquema impressiona: 105 funcionários mais toneladas de cenário e infra. A audiência comprova o trabalho bem feito. Para a felicidade geral, só falta agora a Eliana deixar disso e voltar para os braços do meu mauricinho predileto.
Enrolação
Por que será que nenhum anúncio de automóvel conta o preço verdadeiro do carro?

E-mail: barbara@uol.com.br



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