São Paulo, domingo, 29 de setembro de 2002

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Região tem poluição histórica

DA REPORTAGEM LOCAL

A pesquisa da geóloga Luciana Ferrer sobre a presença de mercúrio em excesso no mangue de Cubatão não identifica a fonte dessa poluição. A tarefa é mesmo difícil, uma vez que a região está rodeada pelo passivo ambiental do pólo industrial da cidade, que reúne 16 grandes empresas, entre elas a Petrobras, a Cosipa e a Ultrafértil.
Quando o assunto é mercúrio, no entanto, um nome se sobressai: Carbocloro. Instalada em Cubatão desde 1964, a indústria é a que mais manipula o metal: gasta, por ano, 500 kg na fabricação de gás cloro e de soda cáustica e tem um depósito de 140 t do produto.
O mercúrio metálico está presente em todos os resíduos da Carbocloro, mas, segundo Ademar Salgosa Jr., gerente de suporte industrial da empresa, já há cerca de 15 anos eles são tratados, e o metal reutilizado. "Não compramos mercúrio desde 97, e nosso efluente apresenta uma concentração de mercúrio dez vezes menor que o limite estabelecido."
A Carbocloro obteve, em 99, a certificação ISO 14.001, de excelência ambiental, e tem, segundo a agência da Cetesb em Cubatão, um bom padrão. Todas as qualificações não a impediram, porém, de ter recebido três advertências entre 2001 e meados deste ano, todas por ter despejado no ambiente efluentes que não deviam ter mercúrio, mas tinham.
A presença de mercúrio no mangue pode ser resultado de anos de poluição acumulada -já que as primeiras leis ambientais e ações de controle no Brasil datam de meados dos anos 70, e o mercúrio não se degrada.
"Como tudo na história, as tecnologias de tratamento de efluentes evoluíram, mas nunca despejamos mercúrio in natura no rio", diz Salgosa Jr. Ele ressalta o caráter difuso da poluição que atinge o mangue de Cubatão. "Além das outras indústrias do pólo, a água do rio Pinheiros veio, durante muitos anos, para a baixada, por meio do usina hidrelétrica de Henry Borden. E era uma água cheia de metais pesados", diz.

Alternativa
Existe uma alternativa ao uso de mercúrio na fabricação do cloro, conhecida como célula de membrana, mas ela ainda é pouco difundida no Brasil. "É claro que, para nós, seria bom acabar com essa cobrança em relação ao mercúrio, mas precisaríamos investir algo da ordem de US$ 600 mil para alterarmos todo o processo, o que não é viável por enquanto."
Segundo Marta Lamparelli, da Cetesb, é possível fazer a remediação da área contaminada por mercúrio, retirando o sedimento comprometido e indisponibilizando-o em aterros industriais.
Mas o histórico de ações desse tipo no estuário é desanimador: em 2001, a agência quis se reunir com as prefeituras e as indústrias para fazer a recuperação ambiental da área, mas não conseguiu levar a idéia adiante. (MV)


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