São Paulo, domingo, 29 de setembro de 2002

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Em SP, acontece rebelião na Penitenciária Feminina

Fuga de 60 deixa 11 presos mortos em delegacia na Grande São Paulo

DA REPORTAGEM LOCAL

DO ""AGORA"

Onze presos morreram, nove deles asfixiados na cela em que estavam trancados, após fuga em massa de 60 detentos, ontem, da delegacia do Embu, na Grande São Paulo. Outros dez detentos e o policial civil André Francisco Byngtson, 40, mantido refém por três horas, ficaram feridos.
Às 18h30, outra rebelião iniciou-se no pavilhão 1 da Penitenciária Feminina da Capital, na zona norte, que abriga 550 presas. Um batalhão da tropa de choque foi chamado para conter a revolta. A falta de água nas celas seria o motivo do conflito. Dois funcionários foram mantidos reféns. Por volta das 21h, um tenente da PM saiu da penitenciária ferido na cabeça, mas andando. Às 21h15, um grupo de 32 policiais da tropa de choque entrou na prisão. Logo depois, dois caminhões dos bombeiros entraram no presídio para combater um incêndio.
As 11 mortes em Embu representam o maior número registrado em delegacias no Estado desde 89, quando 18 presos morreram asfixiados em uma cela de castigo -nome do local onde detentos são punidos-, após tentativa de fuga de distrito na zona leste.
A cadeia do Embu, construída para abrigar 24 presos, tinha 163 quando a rebelião estourou ontem, por volta das 11h30. Um grupo de detentos, armado com uma pistola, rendeu dois investigadores que acompanhavam a entrega do almoço na carceragem.
Com a ação dos presos, sobraram três policiais para conter a fuga em massa: o delegado plantonista, Roberto Ribeiro de Luca, um carcereiro e um escrivão.
Dos 60 que saíram correndo pela porta lateral da delegacia, 22 haviam sido recapturados até o início da noite de ontem.
Dentro da delegacia, os presos que não fugiram deram início à rebelião, mantendo o investigador Byngtson refém. O outro investigador rendido, Vanderlei dos Santos, 44, conseguiu escapar.
Segundo a Polícia Civil, os amotinados atearam fogo em colchões no corredor de acesso à carceragem, formando uma barricada. Ao fundo dessa passagem, estavam trancados 9 dos 11 presos que morreram, na ""cela do seguro" -onde ficam isolados os presos ameaçados ou que acabaram de ser detidos. Dois outros teriam sido mortos no pátio da carceragem, espancados pelos rebelados.
""Foi uma tentativa de fuga em massa. Não houve reivindicações", afirmou o delegado Martins Fontes, diretor do Demacro (Departamento de Polícia Judiciária da Macro São Paulo).
Por volta das 14h20, a polícia controlou o motim. O investigador mantido refém foi liberado com um ferimento no rosto.
O secretário da Segurança, Saulo de Castro Abreu Filho, informou que os presos impediram a entrada do Corpo de Bombeiros para apagar o fogo e revelou que entre os mortos havia um adolescente, F.L.L., cuja idade não foi divulgada. De acordo com o secretário, o Estatuto da Criança e do Adolescente permitiria a guarda provisória do menor no distrito por até cinco dias. Ele estaria na delegacia do Embu há quatro, a pedido de um juiz local.
Abreu Filho informou também que os centros de detenção provisória (CDPs) Osasco 2 e Guarulhos 2 receberão, respectivamente, 60 e 54 detentos que estavam em Embu. Ele disse ainda que até o final do ano serão criadas 3.750 novas vagas no sistema penitenciário. (ALESSANDRO SILVA, DAGUITO RODRIGUES E GIBA BERGAMIM JR.)

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