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MOACYR SCLIAR
A complicada vida dos pombos
Andei por vários lugares, e de todos fui expulso por causa de guerras; chamavam-me de Pomba da Paz
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Pombo-correio que errou endereço sofre
rejeição nos EUA. Um casal da cidade de
Manchester, em New Hampshire (EUA),
está tentando descobrir o que fazer com
um pombo-correio que foi parar na casa
errada -a deles. Por uma fita de identificação, Don e Fran Roy rastrearam a origem da ave, que ganhou o nome de Trouble (Problema), e chegaram a um homem
que participa de campeonatos de pombos-correios. Mas Dan Sizczynski, de
Dingmans Ferry (Pensilvânia), afirmou
que o animal foi um dos vários que ele
doou após o fim dos campeonatos. O casal contatou diversas entidades protetoras de animais, mas ninguém quis Trouble. "Estamos preocupados com ele",
afirmou Fran. Nas duas vezes em que
tentaram soltar a ave, ela deu a volta e retornou à casa. Por enquanto, o pombo
dorme sob a cobertura da porta da frente. Ele é alimentado com comida para
pássaros e água. Enquanto não é acolhido por alguém definitivamente, Trouble
começa a se sentir em casa com os Roy. O
cachorro do casal já o trata como membro da família. Folha Online
Aves atacam moradores para defender
território nos EUA. Especialistas têm
alertado os moradores de Chicago (EUA)
para que tomem cuidado com os pássaros. O comportamento extremamente
territorial dos pássaros conhecidos como tordos-sargentos está causando muitos incidentes na cidade. As aves intensificaram suas investidas sobre a cabeça
das pessoas, como se estivessem no célebre filme "Os Pássaros" (1963), de Alfred
Hitchcock. Folha Online
OS DOIS POMBOS se encontraram por acaso, na residência
em que um deles tinha buscado abrigo. Começaram a conversar, na linguagem dos pombos -arrulhos, tristes arrulhos- e logo estavam trocando mútuas confidências.
O primeiro pombo, morador da casa
em que estavam, relatou as desventuras pelas quais passara, depois que
seu dono, um homem chamado
Dan, tentara livrar-se dele, mandando-o embora:
-Cheguei a esta casa, avistei o casal de proprietários, simpatizei com
eles e tentei fazer com que me aceitassem como ave de estimação. Foi
muito difícil. Tudo o que queriam
era mandar-me embora. Chegaram
a entrar em contato com o Dan, que
se negou a aceitar-me de volta. Falaram com supostas associações protetoras de animais e também não
obtiveram apoio. Enquanto isso eu
voejava aqui pelas redondezas, desesperado e revoltado. Cheguei a
pensar em imitar aqueles tordos-sargentos que se unem e atacam os
habitantes de Chicago -como no filme do Hitchcock, sabe? Eu convocaria os irmãos pombos, formaríamos
um grupo revolucionário com um
lema tipo "Pombos de todo o mundo, uni-vos, nada tendes a perder a
não ser as gaiolas", e partiríamos para o ataque. Mas a verdade, amigo, é
que nós, pombos, não damos para isso, não somos belicosos.
-Eu que o diga -suspirou o segundo. Já andei por vários lugares, e
de todos fui expulso por causa de
guerras. Estive no Afeganistão, estive no Iraque, estive em Darfur, estive na Georgia, estive na Bolívia... Esse pessoal me expulsa, sabe? Como
se eu fosse uma ave agourenta. Não
querem nada comigo.
-É verdade. Eles não gostam da
gente. Olhe só o nome que me deram: Trouble, problema. Isso é nome, meu amigo? A propósito, como
você se chama?
-Eu não tenho nome -sorriu a
ave, tristemente.
-Mas, antigamente, costumavam
me chamar de Pomba da Paz.
MOACYR SCLIAR escreve, às segundas-feiras, um texto
de ficção baseado em notícias publicadas na Folha
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