UOL


São Paulo, quarta-feira, 29 de outubro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

PRESÍDIOS

Relatório irá para a ONU

Rio registra 92 mortes em cadeias desde 2001

FABIANA CIMIERI
DA SUCURSAL DO RIO

Nos últimos três anos, 92 presos foram assassinados no sistema penitenciário do Estado do Rio, segundo relatório divulgado ontem pela Secretaria Estadual de Administração Penitenciária.
No mesmo período, o sistema de São Paulo, que tem população carcerária cinco vezes maior do que a do Rio, registrou 329 assassinatos, número 3,5 vezes maior.
O relatório foi enviado à governadora Rosinha Matheus (PMDB), que deverá remetê-lo à ONU (Organização das Nações Unidas) ainda nesta semana.
O documento foi elaborado a pedido da relatora da ONU para execuções sumárias, Asma Jahangir, que, no último dia 6, no Rio, reclamou de o secretário de Administração Penitenciária, Astério Pereira dos Santos, não tê-la informado sobre o número de mortes de presos no Estado nos últimos quatro anos.
Santos disse que a reclamação teve origem em um "mal-entendido causado por erros de tradução". Ele afirmou que não tinha os números porque a secretaria foi criada neste ano.
"Seria leviano se naquele momento inventasse dados. Em menos de 30 dias tive condições de disponibilizar isso para ela", afirmou o secretário.

Mortes violentas
Para ele, os dados do relatório mostram que "está diminuindo o número de mortes mesmo com o aumento do efetivo [população carcerária]".
Segundo o relatório, a média de mortes violentas por mês aumentou de 2,6, em 2001, para 3,4, em 2002. Mas caiu para 1,9 neste ano. Ocorreram 422 mortes (violentas ou por causas naturais) no sistema penitenciário do Rio desde 2000 -318 delas a partir de 2001.
O advogado Marcelo Freixo, presidente do Conselho de Comunidade, ONG (organização não-governamental) que fiscaliza os presídios, considera os números altos, inclusive os registros de mortes naturais.
"Como a população carcerária é jovem, ter um número tão elevado de mortes é sinal de que as condições em que essas pessoas vivem são as piores possíveis".

Condições
O diretor do Depen (Departamento do Sistema Penitenciário Nacional), Ângelo Roncalli Barros, afirmou que "as condições de habitabilidade são muito ruins" na maioria das prisões do país.
Para ele, o problema que mais contribui para elevar o número de mortes é a superpopulação dos presídios, já que o país tem um déficit de quase 100 mil vagas.
Barros disse que o sistema do Rio tem dois complicadores: as facções criminosas não podem ficar juntas e a centralização do sistema em complexos penitenciários dentro da capital.
Ele disse que uma das políticas do Depen é incentivar a regionalização, ou seja, a concentração de presídios no interior. No Rio, os municípios menores estão votando leis municipais que proíbem a construção de presídios.
Barros afirmou que a situação de São Paulo "é um pouco mais cômoda que o Rio", porque foram construídas penitenciárias no interior do Estado.


Texto Anterior: Vitrine virtual: Centro de estudos da USP e laboratório lançam Museu do Sexo pela internet
Próximo Texto: Infância: Bar flutuante serve para programas
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.