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Garotos usam cheque do pai e vendem bens para pagar dívidas
Empresário descobriu que filho de 18 anos havia roubado seu cheque para quitar débito de R$ 9.000 com casa de jogo
Outro pai, um advogado, conta que rapaz de 19 anos vendeu câmera fotográfica, máquina filmadora, tênis, relógio e até computador
DA REPORTAGEM LOCAL
Na casa de jogos Texas Tatuapé só se aceita cheque com
autorização do gerente da casa,
Marcelo Caffé. Cheques de terceiros, só são aceitos até o limite de R$ 100. O jovem V. deixou
no caixa um cheque de empresa
assinado e em branco. Mas, por
azar ou falta de habilidade, por
volta da 0h, os R$ 100 já tinham
terminado. O que restou não
bastava para participar de outra mesa.
O menino foi pedir a Caffé
que autorizasse sua entrada em
outra rodada do jogo. Caffé respondeu que não. "Eu te garanto
que o dinheiro vai estar na sua
conta amanhã", afirmou o
cliente. "É cheque da empresa
do meu padrasto. Libera pra
gente, vai, só mais uma?". Tudo
bem, concordou Caffé com um
sorriso. "Só mais uma."
É compreensível o receio de
estabelecimentos como o Texas Tatuapé com cheques de
terceiros. C., empresário e pai
de A., 18, conta que há algumas
semanas recebeu uma ligação
do banco pedindo autorização
para descontar um cheque de
R$ 9.000. O empresário assustou-se -não se lembrava de ter
passado aquele cheque. Mas o
banco afirmava que sua assinatura constava no papel.
Seguro de que algo estava errado, C. sustou o cheque. Dias
depois, percebeu que A. recebia
ligações insistentes e que parecia nervoso. Não demorou para
ligar os fatos. A. roubara o cheque que C. deixava assinado em
casa, para situações de emergência e acabou perdendo os
R$ 9.000 em uma casa de carteado, que ligava para ele sem
parar, cobrando a dívida.
Furtos
"Começou a sumir dinheiro
da minha carteira, dólares que
a gente guarda em casa. Um dia
meu filho chegou dizendo que
tinham roubado seu relógio.
Era um relógio, presente meu,
que custou uns R$ 3.000. Mas
mesmo assim não desconfiei de
nada", conta, consternado, R.,
empresário, pai de M., 16.
"Um dia, já era de manhã,
muito além do horário do meu
filho voltar da "balada", e nada.
Ele tinha desaparecido. Preocupado, liguei para os amigos
dele, dizendo que ia dar queixa
na polícia. Foi aí que descobri:
Ele estava em uma casa de carteado, jogando o dinheiro do
relógio e dos dólares."
R. foi até o estabelecimento
onde encontrou M. O clima depois disso ficou pesado na família. "Acho que esse vício é pior
que o da droga, pois envolve
muito mais dinheiro. M. está
indo mal na escola, mas ainda
pode se recuperar. Mas é só a
poeira baixar que começa tudo
de novo", lamenta o pai.
S., advogado e pai de T., 19,
enfrenta problema semelhante. "Faz três meses que percebi
que ele estava jogando. Começaram a sumir coisas de casa e
ele chegava muito tarde. Um
dia, vinha cheio de dinheiro que
a gente não sabia de onde tinha
surgido. No dia seguinte aparecia sem nada, dizendo que tinha sido roubado."
Ele conta que seu filho já
vendeu câmera fotográfica,
máquina filmadora, tênis e relógio. "Uma vez, disse que o
computador estava com problema e o levou para consertar.
Depois descobri, por um amigo,
que ele tinha vendido o aparelho para jogar".
(MARIANA TAMARI)
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