São Paulo, domingo, 29 de outubro de 2006

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Garotos usam cheque do pai e vendem bens para pagar dívidas

Empresário descobriu que filho de 18 anos havia roubado seu cheque para quitar débito de R$ 9.000 com casa de jogo

Outro pai, um advogado, conta que rapaz de 19 anos vendeu câmera fotográfica, máquina filmadora, tênis, relógio e até computador

DA REPORTAGEM LOCAL

Na casa de jogos Texas Tatuapé só se aceita cheque com autorização do gerente da casa, Marcelo Caffé. Cheques de terceiros, só são aceitos até o limite de R$ 100. O jovem V. deixou no caixa um cheque de empresa assinado e em branco. Mas, por azar ou falta de habilidade, por volta da 0h, os R$ 100 já tinham terminado. O que restou não bastava para participar de outra mesa.
O menino foi pedir a Caffé que autorizasse sua entrada em outra rodada do jogo. Caffé respondeu que não. "Eu te garanto que o dinheiro vai estar na sua conta amanhã", afirmou o cliente. "É cheque da empresa do meu padrasto. Libera pra gente, vai, só mais uma?". Tudo bem, concordou Caffé com um sorriso. "Só mais uma."
É compreensível o receio de estabelecimentos como o Texas Tatuapé com cheques de terceiros. C., empresário e pai de A., 18, conta que há algumas semanas recebeu uma ligação do banco pedindo autorização para descontar um cheque de R$ 9.000. O empresário assustou-se -não se lembrava de ter passado aquele cheque. Mas o banco afirmava que sua assinatura constava no papel.
Seguro de que algo estava errado, C. sustou o cheque. Dias depois, percebeu que A. recebia ligações insistentes e que parecia nervoso. Não demorou para ligar os fatos. A. roubara o cheque que C. deixava assinado em casa, para situações de emergência e acabou perdendo os R$ 9.000 em uma casa de carteado, que ligava para ele sem parar, cobrando a dívida.

Furtos
"Começou a sumir dinheiro da minha carteira, dólares que a gente guarda em casa. Um dia meu filho chegou dizendo que tinham roubado seu relógio. Era um relógio, presente meu, que custou uns R$ 3.000. Mas mesmo assim não desconfiei de nada", conta, consternado, R., empresário, pai de M., 16.
"Um dia, já era de manhã, muito além do horário do meu filho voltar da "balada", e nada. Ele tinha desaparecido. Preocupado, liguei para os amigos dele, dizendo que ia dar queixa na polícia. Foi aí que descobri: Ele estava em uma casa de carteado, jogando o dinheiro do relógio e dos dólares."
R. foi até o estabelecimento onde encontrou M. O clima depois disso ficou pesado na família. "Acho que esse vício é pior que o da droga, pois envolve muito mais dinheiro. M. está indo mal na escola, mas ainda pode se recuperar. Mas é só a poeira baixar que começa tudo de novo", lamenta o pai.
S., advogado e pai de T., 19, enfrenta problema semelhante. "Faz três meses que percebi que ele estava jogando. Começaram a sumir coisas de casa e ele chegava muito tarde. Um dia, vinha cheio de dinheiro que a gente não sabia de onde tinha surgido. No dia seguinte aparecia sem nada, dizendo que tinha sido roubado."
Ele conta que seu filho já vendeu câmera fotográfica, máquina filmadora, tênis e relógio. "Uma vez, disse que o computador estava com problema e o levou para consertar. Depois descobri, por um amigo, que ele tinha vendido o aparelho para jogar". (MARIANA TAMARI)


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