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72% dos jovens têm preparação inadequada
Estudo do BID mostra que maioria dos jovens não tem instrução adequada para obter boa colocação no mercado de trabalho
Responsável pelo estudo diz que jovem pode até trabalhar em atividade básica, mas essa força de trabalho não atrairá empresas de alta tecnologia
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
De cada 100 brasileiros de 15
a 19 anos, 72 não estão preparados para conseguir uma boa colocação no mercado de trabalho. A constatação é de um estudo do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento)
sobre a qualidade do ensino na
América Latina.
A mesma conta foi feita em
outros cinco países da região:
Peru, México, Uruguai, Chile e
Argentina. O percentual do
Brasil só não foi pior do que o
verificado no Peru.
Para chegar a essa conclusão,
os autores do estudo levaram
em conta não só o percentual
de jovens sem ensino fundamental completo mas também
aqueles que, mesmo concluindo este nível, tiveram uma educação de péssima qualidade.
No caso do Brasil, 43% dos
jovens de 15 a 19 anos sequer
haviam conseguido concluir o
ensino fundamental. Dos 57%
que fizeram o fundamental, no
entanto, o estudo estima que
metade teve uma educação de
baixa qualidade, já que 50% dos
alunos brasileiros que fizeram
a prova de leitura do Pisa (exame internacional que compara
a educação em diferentes países) não passaram do nível 1 de
aprendizado, o mais baixo.
"Não estamos dizendo que
esses jovens não conseguirão
emprego algum. Poderão até
trabalhar em atividades mais
básicas, mas não será essa força
de trabalho que atrairá empresas de alta tecnologia", diz o
economista responsável pelo
estudo, Juan Carlos Navarro.
O argentino Jorge Werthein,
diretor-executivo da Rede de
Informação Tecnológica Latino-Americana e representante
da Unesco no Brasil de 1997 a
2005, concorda. "O desempenho dos latino-americanos no
Pisa, quando comparado com o
de estudantes europeus, deixa
claro que ainda não temos uma
educação de qualidade."
Além de estimar o percentual
de jovens sem preparação adequada para conseguir um emprego bem remunerado, o estudo do BID, por meio de uma
pesquisa do instituto Gallup
feita em vários países, compara
também o grau de satisfação da
população local com a qualidade do ensino. O que surpreende
no caso dos países latino-americanos é que, mesmo tendo níveis baixos de qualidade, a população avalia de forma positiva a educação, fenômeno classificado no estudo como "satisfação excessiva".
No caso brasileiro, mais da
metade (64%) da população disse estar satisfeita com a educação. O percentual do Brasil, porém, nem é um dos mais altos.
No Paraguai, por exemplo, os satisfeitos chegam a 75%, percentual maior que o do Japão (70%).
Uma explicação para essa "satisfação excessiva" está na escolaridade da população, já que, quanto mais escolarizados são os pais,
menor a satisfação.
"Se uma criança atinge um
patamar mais elevado que o do
seus pais, a tendência é avaliarem positivamente a escola.
Mas, no futuro, essa percepção
favorável deve diminuir, porque
as novas gerações estão chegando em um nível maior de escolaridade", afirma Navarro.
Para Werthein, nem sempre a
população mais pobre tem a
consciência de que a educação é
um direito: "Essa consciência
permite ter uma postura mais
crítica sobre a qualidade".
Outro fator a influenciar a
percepção de qualidade da educação é a existência de avaliações institucionais. Neste caso,
o Brasil, ao lado do Chile, é elogiado no relatório por realizar
exames nacionais que ajudam a
população a julgar a qualidade.
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