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Nova regra de filantropia gera mais controle, diz ministério
Segundo Ministério da Saúde, informações sobre atendimentos gratuitos eram obscuras
Hospitais de ponta terão
isenção tributária em troca
de oferecer "conhecimento
e capacidade técnica"
para qualificar o SUS
RICARDO WESTIN
MÁRCIO PINHO
DA REPORTAGEM LOCAL
O Ministério da Saúde afirma
que a nova regra para a concessão do título de filantropia,
criada especialmente para os
hospitais privados mais avançados do país, tem como objetivo acabar com a "falta de controle" do governo sobre essas
instituições.
A filantropia dá a tais hospitais milhões de reais por ano
em isenções tributárias.
Antes, para obter o título de
filantropia, essas instituições
precisavam realizar um certo
número de atendimentos gratuitos à população (o equivalente a 20% de suas receitas).
Agora, devem oferecer "conhecimento e capacidade técnica"
para qualificar o SUS (Sistema
Único de Saúde) -como pesquisas científicas, projetos de
inovação tecnológica e treinamento de gestores e médicos.
A nova regra já vale, em São
Paulo, para os hospitais Albert
Einstein, Sírio-Libanês, Oswaldo Cruz, do Coração e Samaritano, e, em Porto Alegre, para o
hospital Moinhos de Vento.
Juntos, deverão somar no próximo ano perto de R$ 240 milhões em isenções tributárias.
Quando aponta "falta de controle" sobre esses hospitais, o
Ministério da Saúde se refere à
ausência de informações claras
sobre que tipo de paciente é
atendido gratuitamente.
"Imagine que você queira se
internar hoje de graça no Einstein [pela cota de 20%]. Você
consegue?", exemplifica Alberto Beltrame, diretor do Departamento de Atenção Especializada. "Os hospitais podem
atender a uma clientela restrita
e cativa, o que não faz parte dos
princípios do SUS. Os 20% são
de difícil apuração."
A prestação de contas é feita
ao CNAS (Conselho Nacional
de Assistência Social), entidade
federal que concede os títulos
de filantropia. Apesar de envolver saúde, a contabilidade não
passa pelo Ministério da Saúde.
Pela nova regra, os serviços
oferecidos pelos hospitais precisam ser aceitos e depois fiscalizados pelo Ministério da Saúde. "Passam a ser transparentes e auditáveis", diz Beltrame.
Lista de pacientes
Gonzalo Vecina, da direção
do Sírio-Libanês, defende as
novas normas de filantropia,
mas contesta a acusação de que
falta transparência aos atendimentos gratuitos da norma anterior: "Basta vir ao hospital e
levantar a lista dos pacientes".
As regras especiais para os
hospitais de ponta foram criadas em 2006 e regulamentadas
em 2007. Na semana que vem,
o ministro José Gomes Temporão anunciará os 120 projetos
que servirão de contrapartida
para as isenções tributárias dos
seis hospitais de ponta.
"É um novo padrão de relacionamento entre o SUS e o sistema privado", disse anteontem o ministro.
O Hospital do Coração, por
exemplo, fará um trabalho de
telemedicina. Os eletrocardiogramas realizados dentro das
ambulâncias do Samu de todo o
Brasil serão analisados em
tempo real pelo hospital.
Cirurgias
Os hospitais dizem que pode
haver uma redução no número
de atendimentos gratuitos feitos atualmente. O Ministério
da Saúde, porém, afirma que fechou acordos com as instituições para que isso não ocorra.
O Hospital do Coração realiza cerca de 350 cirurgias cardíacas gratuitamente a cada
ano. Era assim que cumpria sua
cota de 20%. Metade das cirurgias continuará sendo feita dessa maneira. A outra metade deverá ser feita por meio do SUS
(paga pelo governo federal).
O presidente da Confederação das Santas Casas, Hospitais
e Entidades Filantrópicas do
Brasil, Antônio Brito, também
elogia as mudanças. Elas, no
entanto, não afetam as Santas
Casas, que, para ter o título de
filantropia, precisam reservar
60% de seus atendimentos a
pacientes do SUS. "O governo
olhou para os hospitais de ponta, mas se esqueceu das Santas
Casas, que estão sucateadas."
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