São Paulo, quinta-feira, 29 de novembro de 2007

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Pró-reitora da UFMT é morta em emboscada

Também foram assassinados o prefeito do campus e um professor, que estavam no carro com Soraiha Miranda de Lima

Investigação não considera, por enquanto, possibilidade de latrocínio; segundo amigos da professora, ela vinha sofrendo ameaças

RODRIGO VARGAS
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPO GRANDE

MATHEUS PICHONELLI
DA AGÊNCIA FOLHA

A pró-reitora, um professor e o prefeito do campus da UFMT (Universidade Federal de Mato Grosso) em Rondonópolis (219 km de Cuiabá) foram assassinados anteontem em uma emboscada ao voltar da capital, por volta das 23h30.
O crime foi na frente da casa da pró-reitora, Soraiha Miranda de Lima, 41. Os três estavam dentro do carro e foram abordados por um homem encapuzado, que atirou, segundo a Polícia Civil, ao menos cinco vezes. Soraiha levou um tiro no tórax e morreu na hora.
O professor de zootecnia Alessandro Luís Fraga, 33, também foi atingido no tórax e morreu no local. O prefeito do campus, Luís Mauro Pires Russo, 44, que dirigia o carro, foi baleado perto da virilha. Chegou a ser levado a um hospital, mas morreu na sala de cirurgia. O criminoso fugiu.
As aulas na UFMT foram suspensas ontem na cidade. A reitoria da universidade declarou luto oficial por três dias.
Como o crime envolvia servidores federais, a Polícia Federal irá participar das investigações juntamente com a Polícia Civil. O delegado encarregado do caso, Alex Sandro Biegas, tomou ontem os primeiros depoimentos de vizinhos da pró-reitora, mas não deu detalhes.
A pró-reitora havia confidenciado a amigos que era alvo de ameaças. Segundo o sociólogo Naldson Ramos, coordenador do Núcleo de Estudos da Violência da UFMT, ela sofria pressões, pois "contrariava interesses dentro da instituição".
O delegado regional da Polícia Civil em Rondonópolis, João Pessoa, disse que, a princípio, não considera a hipótese de latrocínio. Uma bolsa da pró-reitora, no entanto, foi roubada. A polícia, a Folha apurou, considera o fato um despiste.
"O que aconteceu foi uma execução. Mas, por enquanto, de concreto, só temos a cena do crime. É preciso agora investigar as várias questões que estão sendo suscitadas", afirmou.
Segundo a Folha apurou, além de conflitos internos na universidade, a polícia vai analisar ainda se o crime teve relação com o processo de separação judicial da pró-reitora ou se teve como motivação a doação de uma fazenda para a universidade. A área foi comprada por assaltantes do Banco Central de Fortaleza e foi seqüestrada pela Justiça Federal.
A pró-reitora era defensoras da idéia de que a área deveria ser doada à UFMT -o que pode ter contrariado interesses.
O assassinato foi um dia antes da visita do ministro Fernando Haddad (Educação) a Mato Grosso. O ministro não se pronunciou. O reitor da UFMT, Paulo Speller, acompanhou em Sinop, município de Mato Grosso, a inauguração de um novo espaço da universidade. De lá, seguiu para Rondonópolis. Ele disse que não poderia "adiantar hipóteses". Questionado se Soraiha era hostilizada na UFMT por contrariar interesses, ele disse que, "se houve apurações de irregularidades, isso faz parte da rotina da universidade".
Sobre a doação da fazenda, o reitor disse que houve outras áreas obtidas por suposta fraude -e sob seqüestro da Justiça Federal- que já foram disponibilizadas à universidade.
Professores, alunos, políticos e dezenas de moradores de Rondonópolis foram ontem ao cemitério da Vila Aurora, onde ocorreu o velório. A prefeitura decretou luto oficial de três dias.


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