São Paulo, segunda-feira, 29 de novembro de 2010

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Para especialistas, ocupação só adianta se for permanente

Receio é que se repitam experiências de outras operações policiais em que tráfico voltou

Ex-comandante da PM afirma que é preciso aumentar o efetivo e melhorar as condições de trabalho dos policiais


MARCELO BORTOLOTI
DO RIO

A conquista do Complexo do Alemão pode não representar um avanço relevante para a política de segurança pública do Estado caso não haja uma ação continuada.
Para especialistas, o mais importante é que a região seja ocupada de forma permanente pela polícia, para que os traficantes não retomem o território no futuro.
O receio é que se repitam experiências como a de 2007, quando 1.350 homens das polícias Civil e Militar e da Força Nacional de segurança tomaram o complexo de favelas deixando 19 mortos. Pouco tempo depois, o tráfico voltava a dominar a área.
Na Vila Cruzeiro, em 2002 chegou a ser instalada uma unidade do Gpae (Grupamento de Policiamento de Áreas Especiais), com 130 homens. A unidade foi gradativamente desativada e o território devolvido ao tráfico.
Em 2008, já no governo de Sérgio Cabral, após uma operação de retomada, policiais do Bope chegaram a cravar uma bandeira com o símbolo do batalhão na parte mais alta da favela, numa exibição que lembra a da bandeira brasileira instalada agora no topo do morro do Alemão.
"Há um pouco de ilusão em cravar uma bandeira como se estivesse tomando o quartel inimigo. O avanço depende da permanência do Estado ali", diz Ignácio Cano, sociólogo do Laboratório de Análise da Violência da Uerj.
A questão mais imediata, de conseguir um contingente policial necessário à ocupação após a entrada militar é uma conta difícil de resolver.
O coronel Ubiratan Ângelo, ex-comandante da PM do Rio, diz que o atual efetivo da PM, de cerca de 40 mil homens, não é suficiente para uma ocupação nos moldes de uma UPP (Unidade de Polícia Pacificadora). Ele diz que, além de contratação de efetivo, é preciso melhorar as condições de trabalho dos policiais. "Um soldado no Rio ganha cerca de R$ 1.000. Em Brasília é quase quatro vezes mais. Não é possível melhorar a polícia assim."
Para a socióloga Jacqueline Muniz, especialista em segurança pública, é imprescindível o apoio da União. "O combate à violência não pode ser um esforço isolado."


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