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Para especialistas, ocupação só adianta se for permanente
Receio é que se repitam experiências de outras operações policiais em que tráfico voltou
Ex-comandante da PM afirma que é preciso aumentar o efetivo e melhorar as condições de trabalho dos policiais
MARCELO BORTOLOTI
DO RIO
A conquista do Complexo
do Alemão pode não representar um avanço relevante
para a política de segurança
pública do Estado caso não
haja uma ação continuada.
Para especialistas, o mais
importante é que a região seja ocupada de forma permanente pela polícia, para que
os traficantes não retomem o
território no futuro.
O receio é que se repitam
experiências como a de 2007,
quando 1.350 homens das
polícias Civil e Militar e da
Força Nacional de segurança
tomaram o complexo de favelas deixando 19 mortos.
Pouco tempo depois, o tráfico voltava a dominar a área.
Na Vila Cruzeiro, em 2002
chegou a ser instalada uma
unidade do Gpae (Grupamento de Policiamento de
Áreas Especiais), com 130 homens. A unidade foi gradativamente desativada e o território devolvido ao tráfico.
Em 2008, já no governo de
Sérgio Cabral, após uma operação de retomada, policiais
do Bope chegaram a cravar
uma bandeira com o símbolo
do batalhão na parte mais alta da favela, numa exibição
que lembra a da bandeira
brasileira instalada agora no
topo do morro do Alemão.
"Há um pouco de ilusão
em cravar uma bandeira como se estivesse tomando o
quartel inimigo. O avanço
depende da permanência do
Estado ali", diz Ignácio Cano,
sociólogo do Laboratório de
Análise da Violência da Uerj.
A questão mais imediata,
de conseguir um contingente
policial necessário à ocupação após a entrada militar é
uma conta difícil de resolver.
O coronel Ubiratan Ângelo, ex-comandante da PM do
Rio, diz que o atual efetivo da
PM, de cerca de 40 mil homens, não é suficiente para
uma ocupação nos moldes
de uma UPP (Unidade de Polícia Pacificadora). Ele diz
que, além de contratação de
efetivo, é preciso melhorar as
condições de trabalho dos
policiais. "Um soldado no
Rio ganha cerca de R$ 1.000.
Em Brasília é quase quatro
vezes mais. Não é possível
melhorar a polícia assim."
Para a socióloga Jacqueline Muniz, especialista em segurança pública, é imprescindível o apoio da União. "O
combate à violência não pode ser um esforço isolado."
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