São Paulo, domingo, 29 de novembro de 1998

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Ex-interno tem casa
própria em Ribeirão

da Reportagem Local

Pacientes do Hospital Santa Tereza, o Hospital Psiquiátrico de Ribeirão Preto, estão trocando o hospício por casas próprias em bairros da cidade. Três casas populares construídas pelo município já estão ocupadas por um grupo de sete pacientes.
Eles próprios se inscreveram na fila da casa própria com o dinheiro que juntaram das pensões que recebem do Estado. Um casal de ex-pacientes, que se conheceu no hospital, oficializou o casamento em outubro do ano passado e está morando em uma das casas.
Há dois meses, a direção do hospital passou a incentivar os outros "moradores" do hospital a juntarem suas poupanças para a compra de casas populares em consórcio.
A cooperativa e o consórcio são a evolução de um processo que começou em 1984, diz o psiquiatra Alan Kardec Gonzalez, diretor técnico do Santa Tereza. Naquele ano começaram as primeiras tentativas de desospitalização dos pacientes que não tinham mais razão para permanecer nas enfermarias.
Em 1987, um grupo de pacientes passou a ocupar cinco casas construídas dentro do terreno do próprio hospital, que foram chamadas de "lares abrigados". Em 1992, foi aberta a primeira "pensão protegida" fora do hospital.
Com apoio da Secretaria de Estado da Saúde, o Hospital Psiquiátrico (que é público) passou a selecionar e contratar instituições que pudessem montar as casas e acompanhar os pacientes. Três casas já estão funcionando nesses moldes.
Segundo o diretor, cerca de 150 pacientes do Santa Tereza poderiam deixar o hospital e se mudar para casas na cidade.
"O surpreendente é que não tivemos nenhum problema com os vizinhos das nossas casas", afirma Gonzalez.
A idéia de contar com casas populares para receber os pacientes consta da proposta que o Conselho Nacional de Saúde vai examinar esta semana. Por exemplo, cada novo conjunto habitacional deveria reservar um certo número de casas para os pacientes, já que eles não têm condições de disputar os imóveis em nível de igualdade.
Em São Paulo, pelo menos duas casas já estão ocupadas por pacientes que, em outras circunstâncias, estariam internados.
Uma delas, na Mooca, abriga três mulheres. A outra, na Bela Vista, é ocupada por cinco homens. "Nós conversamos com os proprietários e intermediamos o aluguel", diz o psiquiatra Jonas Melman, que preside a Associação Franco Basaglia. A associação, em parceria com a Secretaria de Estado da Saúde, mantém o Centro de Atenção Psicossocial (Caps), da rua Itapeva, na região central. (AB)


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