São Paulo, domingo, 29 de novembro de 1998

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SAÚDE MENTAL
Imóveis têm TV, fogão, geladeira e telefone
Hospital cria `Vila´
com casa mobiliada

NOELLY RUSSO
da Reportagem Local

O Hospital Psiquiátrico de Santa Rita do Passa Quatro mantém 52 casas que funcionam como repúblicas e formam uma espécie de comunidade, onde os doentes podem resgatar sua cidadania.
Ercília Ferreira, Aurora Antunes, Nadir Silveiras e Maria Aparecida Oliveira dividem uma das casas, localizada em uma área de dois hectares em volta do hospital (a 250 km ao norte de São Paulo).
Hoje a instituição mantém seis repúblicas, onde moram grupos de quatro a seis pessoas separadas por sexo e principalmente por afinidade e grau de independência.
O Estado de São Paulo tem hoje 20 mil internos. São 250 hospitais especializados em todo o país, 60 mil leitos para pacientes crônicos e uma verba que varia entre R$ 370 milhões e R$ 400 milhões por ano.
Há uma série de outros números sobre a doença mental no Brasil, mas todos desimportantes para essas pessoas, que convivem ao redor do hospital como hóspedes.
As casas, com 90 m2 de área útil, têm TV, fogão, geladeira, telefone ligado diretamente ao corpo clínico do hospital, quintal e varanda.
Os moradores ganharam do Estado sofás, camas e até um tanquinho elétrico que centrifuga a roupa que eles mesmos lavam.
Esse foi o último entre os oito grandes hospitais psiquiátricos de São Paulo a entrar na reforma de hospícios e manicômios. Foi projetado na década de 40 para abrigar tuberculosos. Médicos e funcionários moravam nas 52 casas.
Quase uma cidade à parte de Santa Rita, a área inclui creche, onde estudam os filhos dos atuais funcionários, uma clínica, horta e até um cinema, hoje desativado.
Há cerca de 20 anos, as instalações foram adaptadas para receber novos pacientes, doentes mentais transferidos do Juquery (em Franco da Rocha, São Paulo).
Há dois anos, a Secretaria Estadual da Saúde decidiu fechar o Santa Rita. O quadro era dramático. Os doentes viviam deitados no chão, sem contato com a realidade. Hoje, dos 450 internos, cerca de 30 são chamados de hóspedes, porque vivem em suas próprias casas e recebem pensão pela deficiência mental ou aposentadoria.
Em dois anos, o hospital mudou. Celas fortes viraram salas de curativo e o pavilhão principal tem oficinas que ensinam desde culinária até pintura em tecido.



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