São Paulo, domingo, 29 de novembro de 1998

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SAÚDE MENTAL
"Tudo precisa melhorar"
Paciente foi estuprada e engravidou

da enviada especial

Apesar de tudo o que já foi feito no Hospital Psiquiátrico de Santa Rita do Passa Quatro (SP), ainda há trabalho para anos. "Tudo precisa ser melhorado aqui. Das condições do prédio até o tratamento", diz a diretora técnica Elaine Maria Covre.
Entre os problemas enfrentados no hospital está o estupro. Logo que a equipe assumiu o hospital, uma das pacientes foi estuprada e engravidou. O nome não é revelado para preservar a paciente, que até hoje está no hospital.
A paciente teve uma menina e o hospital obteve na Justiça o direito de tutela sobre a criança. A mãe sabe e entende que tem uma filha.
A menina, que tem hoje 2 anos, frequenta a creche usada por filhos dos funcionários do hospital. Ela não apresenta nenhum problema mental.
Mesmo tentando manter o local o mais aberto possível, ainda existe um portão que é mantido trancado. A justificativa é que muitos pacientes saem do hospital sozinhos, sem ter condição. Algumas casas na vizinhança são eleitas como "pontos turísticos" dos pacientes, que burlam a vigilância atrás de "um cafezinho".
Outro problema é o de convencer os pacientes a não passar o dia deitados no pátio e, em alguns casos, a usar roupa.
O uso de roupas íntimas também foi reintroduzido, mas alguns pacientes resistem até hoje em usá-las. "Algumas mulheres têm dificuldade em tirar a calcinha antes de ir ao banheiro. Não têm coordenação para isso. Elas conseguem usar os banheiros, mas não as roupas íntimas."

Reforma
A reforma manicomial começou oficialmente no início dos anos 90, quando o Ministério da Saúde definiu critérios mínimos para o funcionamento de um hospital psiquiátrico.
"Desde então, muitos hospitais foram fechados, porque não apresentavam condições básicas de funcionamento. Mas não é possível fechar os manicômios e jogar na rua milhares de pessoas que estavam internadas por décadas", diz o coordenador de saúde mental do Ministério da Saúde, Alfredo Schechtman.
Segundo ele, a qualidade do atendimento em hospitais psiquiátricos melhorou de lá para cá, mas ainda existem problemas.
"O ideal é que existam unidades psiquiátricas em hospitais gerais e que os hospitais psiquiátricos deixem de existir.
Mas esse é um objetivo que só vai ser alcançado a longo prazo. Só podemos extingui-los se houver alternativas e elas ainda não existem em número suficiente", afirmou ele. Entre as alternativas está a implementação de emergências psiquiátricas e unidades com leitos destinados à área.
"Já existem alguns hospitais com essa oferta, mas ainda há preconceito contra o doente mental", diz Elias Lino, coordenador de saúde mental do Estado de São Paulo.



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