São Paulo, domingo, 29 de novembro de 1998

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Projeto Lar quer expandir repúblicas

da Reportagem Local

A responsável pelo Lar Abrigado é a psicóloga Vanderléia Vidal. Segundo ela, o objetivo é ocupar o maior número possível de casas com pacientes que tenham condições para ter autonomia.
"Mesmo os que já estão instalados em sete casas recebem visitas da gente pelo menos uma vez por semana. Eles precisam de alguma supervisão", diz ela.
Segundo Vanderléia, antes de entrar no grupo que vai formar a república, as pessoas recebem uma série de orientações que vão desde higiene pessoal até como resolver diferenças.
Umas das primeiras repúblicas foi formada por quatro mulheres. Ercília Pereira é a encarregada da cozinha e conta como "auxiliar" Maria Aparecida Oliveira, que vai todos os dias para a oficina de culinária, onde aprende a cozinhar.
A limpeza da casa é divida entre Ercília, Maria Aparecida, Aurora Antunes e Nadir Silveira.
Elas se mudaram há quase um ano e se entendem bem. As eventuais desavenças se referem a preferências divergentes na hora de ver TV ou na escolha da comida.
Vaidosas, elas fazem a unha toda a semana com uma manicure. Na sala, o toque feminino: toalhas de crochê, bibelôs e flores.
A idade das mulheres varia de 44 anos a 55 anos. Ercília prefere não revelar a idade, e Maria Aparecida não se lembra. Elas já estiveram no Juquery e estão, em média, há mais de dez anos no hospital.
Quando houve a reforma, logo ganharam a casa para cuidar. As repúblicas têm o nome oficial de moradia abrigada. Quer dizer que são casas que já estavam no local e ganharam nova função, a de abrigar os ex-pacientes do hospital.
Esse projeto existe em outros hospitais psiquiátricos, que também passaram pela reforma.

Clube do Bolinha
Algumas casas adiante da república feminina, moram Bartolomeu Vieira, Messias Rodrigues, Daniel Lisboa e Lino Rocha.
Eles moram em um lugar muito parecido com o das mulheres, mas resgataram a típica república masculina: nada de enfeites, TV ligada a maior parte do tempo, panelas em cima do fogão e uma satisfação com a aparência final.
Na defesa dos "meninos", é preciso dizer que eles mantêm as camas arrumadas e procuram não largar roupas pelo chão, apesar de a comida deles ser fornecida pelo hospital.
Eles não se lembram da idade. Lino se lembra muito pouco da família, mas o hospital está em busca de um suposto irmão dele.
Bartolomeu passou 20 anos no Juquery e diz ter 29 anos. Ele conta que, quando criança, fugia da escola para ver o trem, mas não lembra onde. "Eu ia casar, mas aí não quis mais. O padre caiu no dia do casamento", conta.



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