São Paulo, domingo, 30 de janeiro de 2011

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RS "importa" do Nordeste solução contra estiagem

Há envio de cesta básica e preparação para construir 6.000 cisternas onde o prejuízo já passa os R$ 250 mi

Desde outubro do ano passado, o volume de chuva não chegou a 15% da média histórica para o período na região

GRACILIANO ROCHA
ENVIADO ESPECIAL AO PAMPA (RS)

Enquanto Santa Catarina e o Sudeste sofrem com inundações e deslizamentos, o pampa gaúcho está sendo castigado por uma seca severa e já começa a importar soluções antiestiagem comuns no agreste nordestino.
Prefeituras e agricultores do sul do RS relatam que, nos últimos dez anos, houve estiagem forte em sete. Desde outubro, o volume de chuva não chegou a 15% da média histórica para o período.
Além do envio de cestas básicas e da União liberar R$ 20 milhões para as regiões afetadas, o Ministério do Desenvolvimento Social anunciou a preparação de um edital para a construção de 6.000 cisternas no Estado.
Entre quarta e sexta-feira, a reportagem da Folha percorreu 950 km por 7 dos 15 municípios que decretaram estado de emergência. O prejuízo nestas cidades, onde a agropecuária é o motor econômico, já ultrapassou R$ 250 milhões.
Na divisa entre Bagé e Dom Pedrito, o calor torrou as pastagens e as plantações do produtor Luiz Mario Borges Martins, 60. A produção de leite caiu à metade e todo o milho se perdeu.
Plantas que deveriam estar com dois metros de altura, verdejantes e formando os grãos, não chegam a 40 cm. Com o caule tostado, não formaram as espigas.
O rio Santa Maria, o principal curso de água e fonte de abastecimento para 200 mil habitantes de seis municípios, praticamente sumiu.
Com menos de um metro de profundidade nas proximidades de Dom Pedrito, o rio virou uma sucessão de pequenas lagoas -é possível atravessá-lo a pé.
A seca não foi uniforme em todo o pampa. O índice pluviométrico variou entre áreas onde houve chuva um pouco abaixo da média e locais onde praticamente não choveu.

MATAS CALCINADAS
Nesta semana, uma frente fria trouxe cerca de 30 milímetros de precipitação (o dobro do acumulado em janeiro). Foi insuficiente para reverter os danos já causados, mas fez renascer a esperança do fim dos incêndios em florestas e pastagens.
No município de Candiota, o fogo torrou uma área equivalente a 400 campos de futebol apenas neste mês.
Perto de Hulha Negra, o peão João Silveira, 39, lutava para encontrar o gado desgarrado em uma floresta de eucaliptos carbonizada.
Na propriedade onde Silveira trabalha, parte das 600 cabeças fugiu após o fogo destruir 4.000 m de cerca.

FALTA PLANEJAMENTO
A professora de climatologia da PUC-RS Ana Soster afirma que falta planejamento para adaptar a economia e o uso de recursos do pampa para estiagens recorrentes.
"A culpa não pode ser debitada só ao clima. O La Niña (resfriamento do oceano Pacífico) é um fenômeno previsível, responsável tanto pelas chuvas do Sudeste quanto pela seca no Sul. O que falta aqui também são medidas preventivas", diz.
A prevenção, para ela, deve incluir investimento em reservatório, uso racional de cursos d'água e diversificação de atividades para diminuir a dependência da economia local das pastagens.


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