São Paulo, segunda, 30 de março de 1998

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MORTALIDADE
Taxa de crianças menores de 1 ano mortas na região Norte equivale ao índice registrado no Sul, em 83
Norte do país está 13 anos atrasado, diz estudo

BETINA BERNARDES
da Sucursal de Brasília

O Brasil do Norte está 13 anos atrasado em relação ao Brasil do Sul no que se refere à mortalidade de crianças com menos de 1 ano de idade. No Norte, a proporção de mortos dessa faixa etária é equivalente à registrada no Sul em 83.
Do total de pessoas que morreram na região Norte em 96 (dado mais recente), 15,4% tinham menos de 1 ano. Na região Sul, percentual semelhante (14%) foi verificado em 83 -em 96 já havia sido reduzido para 6%.
O Cenepi (Centro Nacional de Epidemiologia, do Ministério da Saúde) traçou um retrato da mortalidade no país no período de 80 a 96 ao qual a Folha teve acesso com exclusividade. O trabalho vai servir de base para a elaboração de políticas de saúde pública.
"Ao longo desses 17 anos, houve uma progressiva melhora de alguns indicadores de mortalidade, mas temos um perfil epidemiológico complexo", disse Jarbas Barbosa, diretor do Cenepi.
"Nosso perfil nem é de Primeiro Mundo, que só se preocupa com doenças crônicas e degenerativas, nem de um país da África, que tem doenças transmissíveis e causas externas como principal causa de mortalidade", afirmou.
Em 80, de cada quatro óbitos que ocorriam no Brasil todo, um era de criança com menos de 1 ano. Em 96, essa proporção foi reduzida: uma em cada dez mortes é de criança nessa faixa etária.
As causas perinatais (relacionadas ao pré-natal, ao parto e à assistência ao recém-nascido) representavam 30% das mortes de menores de 1 ano, em 80. Dezessete anos depois, elas foram responsáveis por 48,8% das 73,5 mil mortes ocorridas nessa faixa etária.
Em compensação, as doenças infecciosas e parasitárias, que em 80 representavam uma em cada quatro mortes de menores de 1 ano, em 96 passaram a causar um em cada dez óbitos.
"Isso foi possível com vacinação em massa, aumento do aleitamento e melhoria do acesso à água tratada. É mais difícil reduzir as causas perinatais porque elas são muito associadas à qualidade da assistência médica", diz Barbosa.
"É um sinal para os gestores, principalmente os municipais -que estão assumindo o gerenciamento da rede-, de que é preciso investir na melhoria da qualidade do pré-natal", afirmou.
Como a mortalidade entre jovens caiu e as pessoas estão vivendo mais, as neoplasias (cânceres) assumiram um papel importante na causa de mortes.
Elas passaram a ser responsáveis por 11,4% do total, percentual que era de 8% em 80. O câncer é chamado de "doença de Primeiro Mundo", onde é uma das principais causas de morte.
"Aqui, porém, nem toda neoplasia é 'doença de Primeiro Mundo', porque nós temos um peso grande dos cânceres evitáveis."



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