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RETRATOS DA SOLIDÃO
Ministério Público é acionado para tentar convencer os parentes a buscarem seus doentes nos hospitais
Rejeição familiar pode gerar ação na Justiça
DA REPORTAGEM LOCAL
Não é só com casos de esquecimento de pacientes e desatenção
que hospitais têm de lidar, mas
também com situações mais graves, em que já se configura uma
rejeição da família.
Bruna, de um ano, foi abandonada ao nascer no Instituto da
Criança do Hospital das Clínicas
de São Paulo. Com dificuldades
para ganhar peso, os médicos verificaram que ela sofre de um distúrbio de desenvolvimento.
A menina, então, foi encaminhada ao Hospital das Clínicas da
Faculdade de Medicina da USP de
Suzano, Grande São Paulo, que
faz retaguarda para a unidade da
capital. E lá já se encontra na etapa
final de um processo de adoção.
"As pessoas escondem a dor, mas
é importante que aprendam a lidar [com isso]. A tecnologia permite que a pessoa sobreviva", diz
a psicóloga Ana Maria de Paula,
ouvidora do hospital de Suzano.
No local, que já teve muitos pacientes "esquecidos" e rejeitados
pela família, foram implantados
eventos para atrair familiares,
além de auxílios sociais para visitas, como financiamento de
transporte e alimentação. Hoje,
poucos casos preocupam, como o
de uma mulher, que levou um tiro
no rosto e em sete anos de internação foi visitada pela família em
apenas três ocasiões.
A Santa Casa de São Paulo levou
para o Ministério Público dois casos em razão de recusas das famílias em amparar seus doentes. O
rapaz Z.S.M., 29, que se recupera
das seqüelas de um acidente de
carro, teve alta, mas foi rejeitado
pela própria mãe, que dizia já ter
passado muito trabalho com o filho. O rapaz comunica-se com dificuldade, mas na única fala à reportagem disse "Salvador", cidade onde vive sua mãe.
Outro caso difícil é o de D.F.S.,
55, que tem seqüelas graves de um
derrame. Solteiro, e liberado para
voltar para casa, ele quer morar
com os sobrinhos, que não o querem. O Ministério Público também foi acionado para tentar uma
mediação formal com a família.
Caso não haja acordo, pode acusá-la de abandono na Justiça.
Segundo o delegado Oscar Ferraz Gomes, titular da delegacia do
idoso da capital, caracterizar o
abandono, para todas as faixas
etárias, não é fácil. Deixar desamparado idosos em hospital é crime, assim com o abandono material de adultos que não tenham
como se sustentar sozinhos. Mas
se houver visitas, mesmo que esporádicas, não há como acusar a
família de abandono.
O caso de I., 43, é mais um que
causa discussão. Também com
seqüelas de um derrame, seu marido a deixou no hospital e foi viver no Japão. Os dois filhos adolescentes estão com a cunhada. O
hospital já permitiu que ela volte
para casa, mas ainda negocia com
a família, que resiste. As visitas
são cada vez mais raras. "O que eu
mais quero é ir embora. Pelo menos vou estar perto dos filhos",
afirmou.
(FABIANE LEITE)
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