São Paulo, domingo, 30 de abril de 2006

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AMIGOS PARA SEMPRE

Doentes, parte dos pacientes foram abandonados pela família quando ainda eram pequenos

Hospital aumenta vínculos de amizade

Bruno Miranda/Folha Imagem
O paciente Carlos Aguiar (esquerda) e o amigo Edmir Guerra ouvem rádio no jardim do hospital


DA REPORTAGEM LOCAL

Cadeiras de rodas lado a lado, os dois amigos ouvem rádio no jardim, enquanto passam as raras visitas do Hospital Geriátrico e de Convalescentes D. Pedro II, na zona oeste de SP.
Carlos Aguiar, 90 anos, 69 na unidade, é o mais antigo paciente do hospital. Doente, foi abandonado ainda bebê na roda dos expostos, estruturas que as Santas Casas deixavam nas portas dos hospitais para acolher crianças rejeitadas pelas mães.
Já o amigo, Edmir Guerra, 58, foi abandonado menino, também doente, em um hospital. Juntos, os dos driblam o abandono há décadas.
"Eu já disse prá ele [Carlos]. Eu sou seu amigo aqui para o resto da vida", diz Guerra, olhando para o companheiro.
"Muitas das pessoas aqui tiveram uma vida muito fragmentada. Talvez a institucionalização seja a melhor parte", avalia o terapeuta ocupacional do hospital, Ronaldo Druzian.
Segundo o terapeuta, durante as sessões de atividades como tear e costura, os pacientes revelam que o objetivo era ter mais contato com a famílias. "O que tem aqui nunca substitui. Mas aos poucos eles se aproximam."
Assim como Aguiar, Maria Celina Alves (nome ganho no hospital), hoje com mais de 60 anos, também foi deixada na roda dos expostos. "Arruma uma família para a gente ir embora", disse Celina, que afirma ter nascido em Atibaia, interior de SP.
O hospital geriátrico, um imponente prédio de Ramos de Azevedo com 95 anos, já chegou a ser o sonho da aposentadoria da elite paulista. Com mais de 800 leitos, era asilo de ricos e pobres. Atendeu de Albuquerque Lins [ex-governador do Estado] a abandonados, lembra Milton Gorzoni, geriatra da Santa Casa.
Há dez anos, no entanto, a unidade foi transformada em hospital de retaguarda, para abrigar pacientes que precisam de atenção constante -e que não poderiam ficar ocupando leitos dos hospitais gerais, tão escassos. (FL)


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