DA REVISTA DA FOLHA

O pai do rapaz da foto pensou seriamente em registrá-lo com o nome de Doutor Ailton. "Ele é um desses baianos metidos a engraçadinhos e quis sugerir um destino para mim", diz o filho, que mais tarde gostou da idéia e a adotou. Rebatizou-se com o título à frente do nome e fez uma composição com as letras. Ficou Doutor Aeilton, com a vogal "e" entre o "a" e o "i": "Só falta o "u'", ele diz, com um tom de voz blasé, que faz parte da composição do tipo.
Quando não surgem idéias melhores, Doutor Aeilton sai para caminhar. Com a estampa que tem, um passeio basta. Mede 1,80 m, pesa 65 kg, cultiva um cabelo estilo black power, usa óculos com lentes escuras e uma armação amarela que toma cerca de três quartos do rosto muito fino, e, além disso, é famosíssimo no meio da chamada "street art", ou arte de rua, e da black music.
Nasceu e foi criado com os três irmãos em Itaquera. Não fez faculdade, mas sua escola oferecia uma espécie de curso técnico em arte. O momento que de fato catapultou Doutor Aeilton aos cânones da celebridade -entre um grupo de poucos, é claro- foi a noite Pop Corn, criada em 2003, que por um ano reuniu "um povo maluco" em torno de diversas vertentes da cultura underground. Junto com o grafiteiro e desenhista MZK, Doutor Aeilton comandava a única noite de black music em uma casa especializada em rock, a Fun House. Os dois recebiam sempre às quartas-feiras para exposições de arte de rua, lançamentos de fanzines e CDs.
Sem emprego fixo, diz, em sua definição, que é um sujeito à toa -e que suas grandes idéias brotam justamente desse tempo de sobra para pensar. E o que o doutor faz para viver?
(Silêncio).
A mulher dele, Andréa De Marco, 33, com quem está casado há oito anos, intervém: "Você nunca sabe responder quando te perguntam isso".
Resposta: "Gosto de dizer que sou repórter, mas também trabalho como host de boate, modelo de comercial....tive uma banda..."
Em resumo: "Eu me adapto ao mercado. Se ninguém me quer, eu também não quero ninguém, e fica todo mundo feliz."


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