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Baiano fez fama entre migrantes nordestinos na capital paulista
DA REVISTA DA FOLHA
A hora e a vez do baiano Nélson
Dantas tardou, mas chegou. Nascido e criado até os 14 anos em
uma cidade chamada Araci ("pode procurar no mapa, tá lá"), a 210
km de Salvador, ele chegou a São
Paulo só com o endereço de um
irmão zelador. Hoje, aos 47, formado em ciências contábeis, casado cinco vezes, pai de três filhos,
administrador de três estacionamentos e produtor musical, pode
refestelar-se nas benesses da fama
alcançada entre os "nordestinos
que vieram de baixo".
A expressão é utilizada pelo
próprio Dantas, que há quase dez
anos tornou-se o diretor do Centro de Tradição Nordestina
(CTN), espaço que atrai todos os
fins de semana uma média de 20
mil pessoas para festas com música regional, comes e bebes.
Não há ninguém ali que não o
conheça. "A maior satisfação para
mim é ver esse povo simples, às
vezes gente de idade, de chinelo
de dedo, dançando até as 3h", diz
Dantas que, pela postura e o indefectível sotaque, se assemelha a
um ACM do CTN.
Ao mesmo tempo querido e temido pela autoridade, o baiano
não costuma pedir duas vezes
quando quer alguma coisa e tem
sempre um pequeno séquito para
realizar suas vontades. "Ô, meu filho, traga aquele chapéu "preu" fazer a foto", diz, sem olhar especificamente para nenhum dos três
auxiliares que estão por perto,
mas esperando que algum deles
faça o que ele pede.
"Sou muito sério aqui, tenho de
ter uma postura comercial e por
isso não danço. Mas, quando saio
e vou para outros lugares, dou minhas cacetadas", diz ele, que conheceu sua quinta mulher, 22
anos mais nova, na pista do CTN.
Vaidoso e cônscio de sua elegância, o empresário veste uma
camisa de gola olímpica verde-musgo, blazer azul-marinho e calça de veludo marrom. "Disso eu
não abro mão, adoro uma roupa
de marca", afirma. A expressão
"roupa de marca" é usada apenas
para sinalizar peças que considera
de qualidade. Nada é de grife.
"Não é caro, é bom", explica.
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