São Paulo, sábado, 30 de maio de 2009

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Areia encobre o que antes era um vale verde

ENVIADA ESPECIAL A COCAL (PI)

Ontem foi o dia de os flagelados da barragem tentarem encontrar rastros do que foram suas vidas até quarta-feira. Nas localidades a jusante do rio Pirangi, as que mais fortemente sentiram o impacto do turbilhão, centenas de casas de tijolo cru, chamado de adobe, simplesmente desapareceram -foram arrancadas, fundações e tudo, pela força das águas.
No que era um vale verde, parte da rota turística do Piauí onde havia pesqueiros, churrascarias, casinhas, agora existe um imenso areal -com até cinco metros de profundidade.
À tarde, um homem cavoucava com enxada o que eram os restos de sua moto. Uma mulher silenciosa e quase careca arrancava os poucos cabelos que lhe restavam. Ela não sabia onde estavam a filha e a neta.
Um jegue morto parecia brotar do chão -só dava para ver a cabeça. Um bezerro semissoterrado gritava por socorro.
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Cocal, José Maria Siqueira, gritava apontando para o chão: "Aí debaixo estão milhares de animais, casas, velhos e crianças".
Ele fez o seu próprio censo da destruição: de Franco desapareceram 79 casas de um total de 95; de Cruzinho sobraram apenas 5 das 47 que havia; de Dom Bosco, 42 de um total de 53; em Anjico Branco sumiram 79 casas, das cem de antes.
No final da tarde, uma equipe de 25 homens e mulheres, dali da região mesmo, entrava nas águas do rio Pirangi até a cintura, em busca de sobreviventes.
"A gente encontrou um homem e um menino pendurados em uma árvore. Eles não conseguiam falar o que tinha acontecido. Estavam há quase dois dias sem comer e os olhos deles perderam a vida", contou José Ferreira dos Santos, 55, dono de uma churrascaria, da qual só restou um banheiro. (LC)


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