|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Areia encobre o que antes era um vale verde
ENVIADA ESPECIAL A COCAL (PI)
Ontem foi o dia de os flagelados da barragem tentarem encontrar rastros do que foram
suas vidas até quarta-feira. Nas
localidades a jusante do rio Pirangi, as que mais fortemente
sentiram o impacto do turbilhão, centenas de casas de tijolo
cru, chamado de adobe, simplesmente desapareceram
-foram arrancadas, fundações
e tudo, pela força das águas.
No que era um vale verde,
parte da rota turística do Piauí
onde havia pesqueiros, churrascarias, casinhas, agora existe
um imenso areal -com até cinco metros de profundidade.
À tarde, um homem cavoucava com enxada o que eram os
restos de sua moto. Uma mulher silenciosa e quase careca
arrancava os poucos cabelos
que lhe restavam. Ela não sabia
onde estavam a filha e a neta.
Um jegue morto parecia brotar do chão -só dava para ver a
cabeça. Um bezerro semissoterrado gritava por socorro.
O presidente do Sindicato
dos Trabalhadores Rurais de
Cocal, José Maria Siqueira, gritava apontando para o chão: "Aí
debaixo estão milhares de animais, casas, velhos e crianças".
Ele fez o seu próprio censo da
destruição: de Franco desapareceram 79 casas de um total de
95; de Cruzinho sobraram apenas 5 das 47 que havia; de Dom
Bosco, 42 de um total de 53; em
Anjico Branco sumiram 79 casas, das cem de antes.
No final da tarde, uma equipe
de 25 homens e mulheres, dali
da região mesmo, entrava nas
águas do rio Pirangi até a cintura, em busca de sobreviventes.
"A gente encontrou um homem e um menino pendurados
em uma árvore. Eles não conseguiam falar o que tinha acontecido. Estavam há quase dois
dias sem comer e os olhos deles
perderam a vida", contou José
Ferreira dos Santos, 55, dono
de uma churrascaria, da qual só
restou um banheiro.
(LC)
Texto Anterior: Moradores contam mortos e perdas no Piauí Próximo Texto: Em 25 minutos, reunião decidiu volta para casa Índice
|