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ANÁLISE
Após 20 anos de queda, país tende a diminuir mortes com menos rapidez
HÉLIO SCHWARTSMAN
ARTICULISTA DA FOLHA
Um bom jeito de conhecer
um país é olhar para a forma
como morrem suas crianças.
A mortalidade infantil é
um indicador complexo. Ao
contabilizar o número de bebês que morrem antes de
completar um ano de vida e
informar o período do óbito,
o índice revela várias características econômicas, sociais e sanitárias do país.
Assim, os chamados Estados fracassados (cuja infraestrutura foi aniquilada
por guerras e catástrofes naturais ou políticas) costumam apresentar taxas superiores a cem mortes por mil
nascimentos com vida.
É o caso de Serra Leoa
(160), Afeganistão (157) e Angola (132) -indicadores apenas um pouco melhores do
que a taxa de 200 por mil estimada para a Idade Média,
época em que não havia vacinas nem antibióticos.
Quando os índices são altos assim, é possível obter
avanços significativos com
iniciativas simples e que
atinjam grandes fatias da população, como oferecer água
tratada, além de campanhas
de vacinação e pelo aleitamento materno exclusivo.
Países que fazem a "lição
de casa" conseguem reduzir
drasticamente suas mortes.
O Brasil, por exemplo, baixou sua taxa de 49,4 por mil
em 1990 para 19,0 por mil em
2008: uma queda de 61,5%
em pouco menos de 20 anos.
Vale observar que a disparidade entre as regiões é
grande. Enquanto a média
do Nordeste ainda é superior
a 30 por mil, a do Sudeste já
está nas imediações dos 15
por mil. Isso significa que
ainda há bastante espaço para ações no atacado.
À medida, porém, que a situação melhora, fica mais difícil avançar com rapidez. É
nessa encruzilhada que o
país -em especial os Estados
mais ricos- se encontra agora. Uma evidência disso está
na evolução das mortes neonatais, que já representam
65% do total. Quanto mais
desenvolvido um país, maior
o peso desses óbitos na mortalidade infantil.
Ao contrário das mortes
mais tardias, que têm como
causas principais diarreias e
infecções respiratórias, nas
neonatais predominam causas como anomalias congênitas, cujo tratamento depende de ações altamente individualizadas, não raro levadas a cabo por especialistas em ambiente de Unidades de Terapia Intensiva.
Avançar para baixo dos 10
por mil (limite a partir do
qual a taxa é considerada civilizada) tende a ficar cada
vez mais difícil e caro.
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