São Paulo, sexta-feira, 30 de julho de 2010

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ANÁLISE

Após 20 anos de queda, país tende a diminuir mortes com menos rapidez

HÉLIO SCHWARTSMAN
ARTICULISTA DA FOLHA

Um bom jeito de conhecer um país é olhar para a forma como morrem suas crianças.
A mortalidade infantil é um indicador complexo. Ao contabilizar o número de bebês que morrem antes de completar um ano de vida e informar o período do óbito, o índice revela várias características econômicas, sociais e sanitárias do país.
Assim, os chamados Estados fracassados (cuja infraestrutura foi aniquilada por guerras e catástrofes naturais ou políticas) costumam apresentar taxas superiores a cem mortes por mil nascimentos com vida.
É o caso de Serra Leoa (160), Afeganistão (157) e Angola (132) -indicadores apenas um pouco melhores do que a taxa de 200 por mil estimada para a Idade Média, época em que não havia vacinas nem antibióticos.
Quando os índices são altos assim, é possível obter avanços significativos com iniciativas simples e que atinjam grandes fatias da população, como oferecer água tratada, além de campanhas de vacinação e pelo aleitamento materno exclusivo.
Países que fazem a "lição de casa" conseguem reduzir drasticamente suas mortes. O Brasil, por exemplo, baixou sua taxa de 49,4 por mil em 1990 para 19,0 por mil em 2008: uma queda de 61,5% em pouco menos de 20 anos.
Vale observar que a disparidade entre as regiões é grande. Enquanto a média do Nordeste ainda é superior a 30 por mil, a do Sudeste já está nas imediações dos 15 por mil. Isso significa que ainda há bastante espaço para ações no atacado.
À medida, porém, que a situação melhora, fica mais difícil avançar com rapidez. É nessa encruzilhada que o país -em especial os Estados mais ricos- se encontra agora. Uma evidência disso está na evolução das mortes neonatais, que já representam 65% do total. Quanto mais desenvolvido um país, maior o peso desses óbitos na mortalidade infantil.
Ao contrário das mortes mais tardias, que têm como causas principais diarreias e infecções respiratórias, nas neonatais predominam causas como anomalias congênitas, cujo tratamento depende de ações altamente individualizadas, não raro levadas a cabo por especialistas em ambiente de Unidades de Terapia Intensiva.
Avançar para baixo dos 10 por mil (limite a partir do qual a taxa é considerada civilizada) tende a ficar cada vez mais difícil e caro.


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