São Paulo, Sexta-feira, 30 de Julho de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Lillian Witte Fibe também quer pentear macaco

BARBARA GANCIA
Colunista da Folha

Me diga uma coisa: será impressão minha ou o único país das Américas que está competindo nos Jogos Pan-Americanos é o Brasil?
Calma lá, que eu explico: você tem visto aquele boletim sobre os jogos, na Globo, no final da noite? Pois só dá Brasil, Brasil e mais Brasil.
Será possível que ninguém mais esteja fazendo nada que preste nos jogos de Winnipeg? Será que só nós é que temos um esplêndido medalha de ouro nos 200 metros, o Claudinei Quirino, que passou a infância no orfanato?
Será que só os brazucas podem jogar na cara do mundo uma triatleta que teve a bicicleta roubada antes de embarcar e, mesmo assim, ainda levou a medalha de prata?
Será que só a gente pode contar com um atleta que comeu sabe lá qual porcarito e acabou deixando a medalha que já era sua no matinho onde buscou desafogo?
Desconfio que não. Mas vá tentar explicar isso para a dona Lillian Witte Fibe. Você viu o tamanho da asneira que a tia Witte Fibe foi capaz de soltar no "Jornal da Globo" da última quarta?
Examine só as literais palavras: "O Brasil continua em sexto na contagem de medalhas, atrás dos Estados Unidos, Canadá, Cuba, Argentina e México. Nada mal, se a gente levar em consideração que somos o sexto colocado entre 42 países".
Pois eu pergunto: por acaso dona Lillian andou se refrescando na mesma fonte utilizada pelo sr. Galvão "vá pentear macaco" Bueno? Estar em sexto, tendo enviado a maior delegação de todos os tempos para um evento internacional (436 atletas), não me parece grande cachê. Estar em sexto, atrás do México e da Argentina, não era exatamente um êxito digno de aplauso. Estar em sexto, quando os Jogos Pan-Americanos contam com países, com todo o respeito, como o Suriname e o Peru, não é nada para escrever aos parentes contando, viu, minha cara dona Lillian?
Sei que a senhora só vê erotismo nos índices econômicos, o que acho muito admirável de sua parte. Agora, que a digníssima entre na balada do Galvão, que, como bem disse o colega Fernando de Barros e Silva, só vive de querer nos convencer de que o Brasil é o rei da cocada preta, é subestimar a nossa inteligência.
Na hipótese mais amena, é tentar colocar em segundo plano o fato de que um movimento grevista levou só três dias para deixar o país desabastecido e de joelhos.


Texto Anterior: Autônomas de SP enfrentam dificuldades
Próximo Texto: Educação: Conselho defende revisão do provão
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.