São Paulo, domingo, 30 de setembro de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Militantes cobram realização de outras medidas

DA SUCURSAL DO RIO

Militantes da área de direitos humanos ouvidos pela Folha elogiaram a realização de uma campanha contra a tortura, mas cobraram outras medidas no combate ao problema.
"Qualquer medida é bem-vinda. Mas estamos preocupados com a possibilidade de essa campanha ser só uma resposta formal às pressões nacionais e internacionais geradas depois da visita de Nigel Rodley, relator da ONU", afirma o advogado James Cavallaro, coordenador do Centro de Justiça Global.
Ele lembra que o relatório de Rodley cobra a criação de organismos independentes para a investigação de casos de violência policial. "E isso não aconteceu até agora", disse.
A vice-presidente do Grupo Tortura Nunca Mais, Cecília Coimbra, disse que torce para a campanha dar certo, mas está "cética". "Espero que essa campanha não fique só no papel. O governo brasileiro não tem dados sobre o número de pessoas torturadas e desaparecidas. É preciso que essa campanha se volte para os agentes do Estado", afirmou.
Para Cecília Coimbra, o governo deveria abrir os arquivos das Forças Armadas. "A própria Folha mostrou que os serviços de informação do Exército continuam funcionando, o que é um absurdo", afirmou.
O deputado federal Nilmário Miranda (PT-MG), membro da Comissão Permanente contra a Tortura (criada pela Secretaria de Direitos Humanos), disse que considera a campanha "fundamental e histórica".
"Admitir a tortura é um fato histórico. O caminho de combate à tortura é um caminho difícil, mas que não tem volta", afirmou.
Miranda defendeu a implementação de um projeto de prevenção à tortura, fortalecendo as ouvidorias independentes, os serviços de saúde e informações nas prisões e delegacias e a obrigatoriedade de que os depoimentos no Judiciário sejam filmados ou gravados.
O coordenador da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa do Rio, André Luz, disse que é importante falar publicamente da tortura, mas que só a campanha não vai acabar com o problema. "É preciso, por exemplo, dar proteção às pessoas que resolverem denunciar casos de tortura. Como alguém vai denunciar se não se sente protegido?"


Texto Anterior: Direitos humanos: Governo prepara campanha contra tortura
Próximo Texto: Morte do prefeito: Alas do PT fazem disputa por poder em Campinas
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.