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"Ele disse que não queria morrer"
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Os depoimentos do preso Fabiano de Oliveira Costa obtidos
pela Folha detalham as torturas
que teriam sido sofridas pelo comerciante Chan Kim Chang em
27 de agosto, um dia após chegar
ao presídio Ary Franco.
Segundo Costa, que já cumpriu
sete dos 14 anos de prisão por assalto a mão armada e tráfico de
drogas, o agente penitenciário
Éverson Motta levou à sala de inspetoria Chan e um preso australiano. Chan teria manchas roxas
nos cotovelos e um braço inchado, que Motta queria fotografar.
Na sala de disciplina, onde Costa diz que estavam o agente Ricardo Sarmento Alves e dois presos
de confiança, Chan não quis ser
fotografado. Motta pegou na sala
de inspetoria um bastão de madeira, semelhante a uma enxada
sem a ponta cortante, batizada
pelos agentes de "direitos humanos". Ao voltar para a sala onde
estava Chan, disse: "Agora vamos
ver se ele tira ou não as fotos". A
porta foi fechada e "pareceu que
desabava o mundo", disse Costa.
Quando a porta foi aberta, Chan
estava no chão, segundo a testemunha. Tentou se levantar segurando o pé de uma mesa, que virou, fazendo com que ele caísse
para trás e batesse a cabeça numa
gaveta de metal. "Começou a esguichar sangue. [Chan] Passava a
mão na cabeça, nas paredes e nos
arquivos. Em seu desespero, passou sangue no rosto do agente
Sarmento, que saiu da sala", diz
Costa no depoimento.
Segundo a testemunha, Motta
chutou Chan "várias vezes e fortemente", empurrando-o para fora
da sala de disciplina. A um preso
que passava, Chan teria dito que
estava com frio e que não queria
morrer. O comerciante tentou engatinhar de volta para a sala de
disciplina, mas foi impedido com
uma joelhada no peito.
Chan se agarrou a uma estante.
O agente Ricardo Duarte Pires
Valério chegou com as algemas.
Motta, segundo Costa, colocou
um joelho sobre o peito de Chan,
chutou a mão do preso para que
largasse a estante e ainda pisou
duas vezes em sua cabeça. Chan
passou a sangrar pelos ouvidos.
Segundo o depoimento, Motta e
Valério arrastaram Chan pelos
pés até a cela de triagem. Os agentes Carlos Alberto Rodrigues e
Carlos Luiz Corrêa assistiram à
cena e nada fizeram. Ainda irritado, Motta pegou o "direitos humanos" e bateu na grade, atingindo Chan no que Costa define como "o golpe de misericórdia".
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