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DANUZA LEÃO
A tal da carência
Amor é bom, mas se jogamos no outro a responsabilidade por nossa vida e nossa felicidade, o peso fica grande
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RECEBI carta de um leitor me
fazendo a célebre pergunta:
"Afinal, o que querem as mulheres?" Ele e seu grupo de amigos
têm em torno de 40 anos, trabalham, são simpáticos, separados das
mulheres, alguns com filhos, outros
sem, mas não conseguem uma namorada; estão achando que o que as
mulheres querem é um homem bonito, de sucesso, rico, apaixonado e
fiel. Será?
Não, leitor, você não tem razão. As
mulheres, para começar, são todas
diferentes umas das outras, não
existem duas iguais. Uma é capaz de
gostar de um homem feio, pobre e
sem emprego, casado, com filhos,
além de tudo infiel (até a você), e se
apaixonar perdidamente. Aliás, o
que faz uma pessoa se apaixonar por
outra? Vai saber. Este é um dos
grandes mistérios da vida.
Pelas qualidades não é; pela disponibilidade não é; pela capacidade de
serem fiéis também não. O interesse
por alguém bate ou não bate; quantas vezes homens lindos e charmosos chegam perto de uma mulher,
cheios de amor pra dar, e nada, porque não bateu? E quantas outras vezes uma mulher viu um homem lá
no fundo da sala sozinho, totalmente desligado, e dá aquela curiosidade
de saber o que ele está pensando, já
que não está rindo e dizendo bobagens ou coisas inteligentíssimas, sozinho com ele mesmo, e parecendo
não precisar de nada nem de ninguém porque não precisa de ninguém para existir? Algumas mulheres gostam de ter sua curiosidade
despertada, de um certo desafio, para poderem testar seu poder de sedução e conquista.
Porque dizem que são os machos
que caçam, mas algumas fêmeas
também adoram caçar.
Talvez meu leitor esteja agindo de
maneira óbvia demais, ao tentar ganhar uma mulher. Mulher é um bicho complicado, e se sentir que a parada está ganha, perde o interesse.
Assim como fica muito evidente,
quando uma mulher está desesperadamente procurando um homem
-e dessas eles fogem como o diabo
da cruz; quando eles estão querendo
muito uma mulher, elas também
sentem e não se interessam, a não
ser que o interesse seja especificamente nela. E sabe por quê? Porque
fica claro que eles e elas não estão
querendo aquele homem ou aquela
mulher, mas qualquer um, qualquer
uma, para suprir sua carência. E não
há nada pior do que uma pessoa declaradamente carente. São os que
estão sempre prontos para ver o filme que o outro quer, ir ao restaurante que o outro quer, que está sempre de acordo com suas opiniões, e antes
de decidir qualquer coisa, procura
saber primeiro o que o outro acha.
Quem entrar numa dessas vai se
arrepender do dia em que nasceu.
Porque os carentes jogam todas as
suas fichas no outro; não têm vida
própria, não têm prazeres pessoais,
que seja ler um livro, jogar paciência
ou ver vitrines, e é como se dependesse do outro para respirar. Amor é
bom, mas se jogamos em cima do
parceiro/a a responsabilidade por
nossa vida e nossa felicidade, convenhamos, o peso fica muito grande.
Por isso, meu querido leitor, não
fique procurando uma mulher para
uma relação, digamos assim. Faça
como Zeca Pagodinho: deixe a vida
te levar e um dia, quando estiver distraído, ela vai aparecer, de mansinho, como quem não quer nada.
Porque, percebendo que você não
precisa dela para ser feliz, ela vai,
quem sabe, até se apaixonar.
E não é isso que você quer?
danuza.leao@uol.com.br
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